Esse amor canino (02/31)

Durante muitos anos eu fui irmã de cachorro. Para quem não sabe, Tatau me acompanhou dos 5 até os 22 anos, e enquanto crianças ele era o meu parceiro de aventuras. Grandes, nós dois, viramos amigos, e no fim da sua vida, virei sua cuidadora. Passei mais de um ano sem dormir durante a noite inteira para cuidar dele, e tínhamos um vínculo de amizade que deixou um espaço enorme para ser preenchido. Perder um cachorro dói, e dói muito.



Ele era um cachorro cheio de personalidade. Era rancoroso, rebelde, independente, odiava carinho prolongado, tinha as atividades dele que às vezes me incluía. Ele cismava na hora de tomar remédio, porque não era normal a gente dar comida para ele, e quando a esmola é demais o santo desconfia. Um dia dei um susto nele que, juro, passaram-se umas três semanas até que ele tivesse coragem de olhar na minha cara de novo, de tanta raiva que ele ficou. A gente dava osso para ele roer e ele achava que era um presente de grego, porque não conseguia achar um lugar que fosse bom o suficiente para esconder o osso, então ficava chorando frustrado, com ódio. Mas ele também era ultra fiel, adorava passear comigo, e já no finzinho da sua vida, nos nossos passeios, ele me pedia para colocar ele no colo na volta. Na ida, ia saltitando, cheirando tudo; na volta, vinha dormindo nos meus braços. Nunca esperei que um dia alguém pudesse substituí-lo. E, de fato, isso não aconteceu.

A Dindi chegou na minha vida e desde imediato deixou claro que não éramos simples companheiras. Ela era minha filha, e nós éramos feitas uma para a outra. Ela fingia que não era esperta para melhor passar, mas sabe de cor o nome de todos os brinquedinhos (ela tem um monte). Ela tem uma carência que só se equipara à minha, então passamos o dia grudadas uma na outra, literalmente. Ela adora usar roupinhas e tomar água gelada. De manhã cedo, ela gosta de brincar de esconde-esconde com o lençol, e é mestra em guardar segredos contados ao pé do ouvido (mas ela sempre fica catatônica com o peso da informação). E sempre que ela vê a minha mala sendo arrumada, ela entra num momento de depressão e de não fazer contato visual que acaba comigo.

Eu acho que ela sabe que eu não estou longe dela porque quero. Eu sempre digo, reforço, mas não sei se ela entende. A saudade que eu sinto é mais que um aperto no coração, chega a ser algo físico: eu preciso estar sentindo o cheiro, o corpinho quente. Tem gente que me acha louca de dormir na mesma rede com o meu cachorro. Mas acharia loucura dormir sozinha, enquanto ela dorme sozinha longe de mim, quando nós duas poderíamos estar nos amassando juntas.

Já ouvi uma vez: e quando você tiver filho? Vai fazer o quê com o cachorro? Comentei isso com MB e ele respondeu na hora, sem pestanejar. Joga o cachorro dentro do berço, para eles se amarem bem muito, desde sempre.

haheuaiehukhjdajihd olha a cara disso

Não tem nada nesse mundo que eu goste mais que cachorro, e não tem cachorro nesse mundo mais incrível que a minha filha. E hoje me dói não estar com ela, comemorando os seus três anos. Eu já senti a dor de perder um amigo-cão, e hoje sinto a dor da distância. Mas cada dia que estamos juntas, naquele troca-troca de cheiro e carinho que não para, vale a pena. Não tem amor mais puro que o amor de um animal.

Hoje fizemos facetime, fiz a maior festa, chorei lógico, mandei beijo, recebi uma lambida na tela. Mas queria mesmo era dar um aconchego bem apertado e dizer pra ela não se preocupar, vamos sim ficar juntas para sempre. Filha, já que eu volto.


Um dos meus vídeos favoritos de quando ela era filhota doida, com bônus da minha cara de paisagem tentando agir como se nada estivesse acontecendo

  1. Amiga, eu acho muito lindo o teu relacionamento com os bissinho. Realmente não há amor mais puro que o amor de um animal e isso faz da vida muito mais completa. Dindi é sua alma gêmea mesmo e vocês logo logo estarão juntinhas fisicamente de novo. Tu sabe que a distância não é nada quando o amor é muito.
    Feliz aniversário para Dindi, essa cã maravilhosa e cheia de personalidade <3
    Te amo! <3

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  2. Ai, essa bicha, quanto amor. Ela é gostosa demais e vocês duas juntas são a coisa mais linda que eu já vi na vida. Vai ser um dia muito maravilhoso quando vocês estiverem juntas de vez de novo.

    E, cara, esse vídeo. Não sei lidar. Parabéns pra dindi.

    Amo vocês <3

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  3. Acho sua relação com Dindi uma coisa tão linda e especial, parece tanto um encontro de outras vidas, uma coisa mística assim que tinha que acontecer, estava escrito, sei lá. Distância não é nada pra um amor desses, mas sonho com o dia que vocês vão poder ficar juntinhas em terras cariocas.

    E pfvr, levando essa resposta de MB pra vida.

    te amo <3

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  4. Chorei? Mas é LÓGICO que eu chorei. Amor de bicho é uma coisa única, que parece que expande nosso coração de um jeito louco, como se o espaço que a gente tem aqui dentro nunca fosse suficiente pras doses cavalares de amor que trocamos, embora esteja sempre crescendo. Você teve a chance de conhecer dois amores muito únicos e especiais com Tatau (que cão) e Dindi (que mulher) e isso é um privilégio incrível.
    Posso amassar vocês num pilão?
    Amo as duas muito <3

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  5. Ai amiga, que texto mais lindo! Não conheci Tatau pessoalmente, mas a despedida dele doeu em mim mesmo assim. Vocês com certeza foram grandes companheiros. E Dindi, não tenho palavras para falar dessa cachorrinha que tive o prazer de amassar e considero PACAS. Vocês duas são realmente alma gêmeas, nasceram uma pra outra e amo assistir essa relação acontecer. POR FAVOR vocês se amassando na rede!! Não consigo entender o tipo de ser humano que não acha que essa seja uma boa ideia.

    Feliz aniversário pra gortosa da Beebee!

    Amo vocês <3

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  6. Ah, que texto delicioso! Me deu muita saudade do Kikinho, ler você falando do Tatau. Realmente, não tem como substituir um cachorro, mas tem como desenvolver um amor diferente, que faz com que a saudade aperte um pouco menos. Contigo é a Dindi, comigo é o Ozzy. Odeio a casa sem um cachorrinho e entendo perfeitamente seu amor pela Dindi. Aliás, admiro muito a sua força pra ficar tanto tempo longe! Eu passo duas semanas e o coração já parece que vai sair do peito.

    Feliz aniversário, Dindi, gostosa <3

    Sdds!!

    Beijos, amiga, te amo!

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  7. Ai que texto mais lindo! ♥
    Tive cachorros a vida toda, mas sempre irmãos, agora tenho um filho também.
    Macgyver acredita ser uma pessoa e me reconhece como mamãe, coisa mais linda!
    Fico só babando de longe nas fotos da Dindi, porque dá pra ver através delas esse amor bonito e melhor, reconhecer e entender.
    Quando tiver filho, minha sogra diz que Macgyver precisará de psicólogo, mas acho que não. Ele ama crianças, deita perto, faz carinho, mas cachorros ele não suporta. haha Vai entender.

    Amei, amei, amei. ♥
    Beijo!

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  8. Não sei se sou meio das avessas, mas me emociono mais com gente sendo boba e apaixonada pelo animalzinho do que quando vejo as mães apaixonadas pelos filhos nas redes sociais dessa vida.
    Sua dog-dog é a coisa mais fofa (quase depois da minha Luninha) e eu te entendo por sentir saudade. Eu morro de saudade da minha dog-dog quando não consigo ver ela, amassar (amasso tanto que ela chega a ficar com raiva) ela ou ficar fazendo carinho.
    Eu AMO cachorros. Sou uma #proud dog person.
    Beijos!

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  9. Pq será que as pessoas teimam em perguntar o que será feito com os bichos quando tivermos filhos? Ora, nada. Eles vão ganhar um outro membro na família. Adorei sua resposta, joga dentro do berço sim porque amor de bicho é uma das melhores coisas que uma criança pode ter <3
    Lindo post!

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25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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Esse blog está vestido com as roupas e as armas de Jorge, porque ninguém há de copiar esses textos e ilustrações sem dar o devido crédito.