Carnet de Voyage

Às vezes eu me assusto com a quantidade de coisas que eu escrevo por post. (Daqui a pouco os meus posts terão três páginas) E também me assusto com a quantidade de gente que consegue ler até o final o volume de baboseiras que geralmente vem recheado nesses mil parágrafos que eu tô escrevendo hoje em dia. Enfim.

Pensando nisso, vou fazer um post bem cheio de imagens e sem muita lenga-lenga (dizem).

Antes de viajar, eu passei horas selecionando os cadernos que eu ia levar (alguém mais coleciona cadernos?), pensando nas possibilidades que eu ia comprar lá, e desejando fazer um diário ilustrado. Queria registrar tudo que acontecesse em forma de desenho... Mas cheguei lá e era uma rotina tão rápida que o máximo que eu conseguia anotar eram os meus gastos diários, e deixei a ideia de ilustrar pra lá.

Aí que eu fui com a meta de comprar os outros dois quadrinhos do Craig Thompson (meu ÍDOLO CRAIG TE AMO), e realmente fiz uma peregrinação em busca dos dois, que estavam quase sempre esgotados. Achei Chunky Rice tipo no segundo dia, mas penei pra encontrar Carnet de Voyage. Até que eu consegui!


Os quadrinhos do Craig MEGA me inspiraram, como sempre, e eu decidi perder a preguiça e desenhar.

Depois da aula, num dia, fui até Covent Garden e me sentei do lado de fora de uma feira. Estava de bobeira olhando as pessoas havia vários minutos, ouvindo a música dos músicos incríveis que tocam nas ruas de lá (vai saber, né)... Quando criei a coragem de começar a desenhar.



Nada de ilustrações bonitinhas e bem elaboradas: só um retrato meio tosco, meio torto e tentando ser fiel ao que me rodeava. Aí que foi super divertido e eu passei a tentar fazer um desenho todo dia (levando em conta que faltava uns 3, 4 dias pra eu ir embora).



No dia seguinte fui na British Library, ver as exposições e me proteger da chuva gelada. Impossível conseguir fazer com precisão a arquitetura meio moderna (não gosto de arquitetura meio moderna)... E também morro de preguiça de desenhar muitas pessoas num mesmo desenho.


Não parou de chover, e no dia seguinte fui andando sem rumo e me abriguei num café para tomar um chá inglês (que não tinha tomado ainda). Depois de passar um tempão lá, desenhando, notei que estava do lado da Trafalgar Square. Por causa da chuva, a praça estava deserta... E linda.

Me encostei numa parede, e mesmo numa posição mega desconfortável, comecei a desenhar. Rolou aquela preguiça de fazer o desenho todo, mas de pouquinho em pouquinho fui preenchendo o fundo (coisa que eu MAIS tenho dificuldade de desenhar), e colocando mais e mais detalhes... Desenhei até anoitecer.




E por fim, fui a Kew Gardens (em breve post sobre a minha relação de amor com parques e jardins). Escolhi um banco lindo perto de uma das enormes estufas, sentei e comecei a desenhar. Do nada, a chuva - eu parava - abria o sol - continuava a fazer as folhinhas - chuva de novo... Fiquei nessa até desistir e só ficar olhando mesmo.









Desenhar ao ar livre uma cena da vida real é incrível. Especialmente quando estamos acostumados a desenhar sentados corcundas dentro do quarto, e editar as imagens demoradamente (ou fazer o desenho inteiro) no computador. Sentar e desenhar, sem se preocupar com o tempo ou com nada, é lindo... Estando rodeado de pessoas ou só de plantas (péssimo dia que eu escolhi pra ir ao Kew Gardens, por sinal), é lindo.

Como um dos artistas que tocava na Trafalgar Square disse, no meio da música: Life is beautiful. Mas às vezes a gente só nota isso quando para um pouco.

(Ah, como eu queria ter desenhado desde o começo da viagem)
(E, ai, como eu falo muito)

Sobre a Central Saint Martins e os Cursos de Férias

Foto mais batida de toda a Central Saint Martins

Vou começar a série de posts sobre Londres com a pergunta que não quer calar: se vale a pena fazer os cursos rápidos na Central Saint Martins, como é lá, etc.

Resposta curta: É claro que vale.
Respost longa:
Vale, e vale muito. Depois que eu me formei eu fiquei pensando no que ia fazer, e enquanto não decidia por uma pós-graduação (encontrei algumas, só que eram fora da minha realidade financeira. Quando eu digo minha, sempre quero dizer da minha família, pois como recém-formada e desempregada, eu não tenho dinheiro próprio ainda), comecei a ver esses cursos de verão na Central Saint Martins e me interessar. O preço não era muito caro, tendo em vista o renome da universidade, que em Londres tudo é caro, etc, etc. Os cursos eram de 300 a 500 libras cada um, com duração de cinco dias e com mais ou menos cinco horas diárias e intensivas. Você pode ver a lista completa de cursos de férias de verão da CSM aqui. (também tem de páscoa, e outros... é só dar uma olhada)

Depois de muito pensar e repensar sobre o assunto, decidi fazer três: Digital Print on Textiles, Digital Fashion Illustration and Communication e Children's Book Illustration. Escolhi por afinidade e por questão de bater o cronograma, pois tinha vários cursos que eu tinha vontade de fazer, mas eram muito distantes uns dos outros, etc. Acabou que vários fatores pesaram na escolha, e não somente o fato de eu ter me interessado mais por esses três. Continuando.

O pagamento foi feito e eu recebi umas cartas confirmando cada curso, tudo muito bem explicado, com lista de materiais, mapinha do bloco onde eu ia ter aula, onde eu deveria levar o meu passaporte para eles verificarem que eu era uma estudante regularizada etc. Aí pronto, foi só me preparar para a viagem propriamente dita, e vamos nós a Londres! Na Imigração foi super certo, falei que estava indo estudar, mostrei as cartas que a CSM tinha mandado pra minha casa, e tudo jóia.

No primeiro dia de aula do primeiro curso (Digital Print on Textiles) eu já sabia onde ir, e embora o prédio fosse giga, tudo era muito bem organizado. A gente sentava numa sala enorme com todas as pessoas que iam começar cursos nesse dia, e os instrutores vinham um por vez chamar os alunos de determinados cursos. Tinha que ser assim, porque a universidade é velha e parece um labirinto.

Dos três cursos que eu fiz, dois foram magníficos. O de estamparia (o 1º) era espetacular em termos de infra estrutura. Todos os alunos tinham computadores ótimos, com tablets da wacom para desenhar à sua disposição, e maquinário especializado LIVRE para os alunos usarem. Eu me sentia como se tivesse numa fábrica, porque tinha simplesmente todas as máquinas que eu já tinha visto, todas com instruções de segurança e a possibilidade de você usar. Como era um curso de estamparia, estampamos um monte de tecidos, e não tinha nada de cota, ou quantidade máxima... Era quantos você quisesse fazer. É claro que muita gente aproveitou para imprimir trabalhos antigos e aproveitar para montar portfolio, mas eu não posso tirar a razão deles. Com uma oportunidade dessas, realmente. Além disso, a tutora era designer de estampas, e vendia para a Liberty e a Anthropologie, sabia como funcionava o mercado, e dava muitas dicas. Além do fato de Londres ser uma cidade central (por falta de termo), os ex-alunos da CSM são designers famosos que continuam tendo vínculos com a universidade, então se você está no seu primeiro ano de faculdade, tem a chance de trabalhar com grandes nomes da moda, etc. Isso definitivamente é um GRANDE ponto forte de estar estudando nessa universidade.

O de Ilustração de livros infantis também foi fantástico. A tutora era uma ilustradora MUITO talentosa, e tinha alguns livros publicados, então além de técnicas incriveis ela ainda passou muitas muitas muuuitas dicas sobre o mercado editorial. Me sentia inspirada por estar ali, aprendendo tudo aquilo. Cada turno (manhã/tarde) era com um tema diferente, uma nova técnica, e é claro que com o tempo corrido você pode não aproveitar tanto quanto deveria. Eu não fiz um desenho decente numa semana inteira. Mas o curso dá as ferramentas para que você possa construir depois, no aconchego da sua casa, e fazer um trabalho muito melhor agora que você já tem tudo aquilo de informação.

E por fim, o segundo curso que foi... Diferente. O tutor, dessa vez, não sabia o que estava fazendo. Ele trabalhava com outras coisas e não especificamente com ilustração, o nível das pessoas era MUITO diferente e acho que ele simplesmente não sabia como proceder. Acabou que também ficamos conhecendo sobre o mercado da moda, e também aprendi dicas valiosas sobre montar portfolio, apresentação de um trabalho, além de algumas técnicas novas no photoshop e básicas no illustrator (que eu não sei usar direito). Foi ruim? De forma alguma. Mas definitivamente não foi o que eu esperava, e com o dinheiro que eu gastei pagando esse curso, poderia muito bem ter feito outro que poderia ter tido mais proveito.





Ou seja: de qualquer forma, é uma experiência incrível. A dica que eu dou para quem pretende ir é escolher com muito mais critérios o seu curso, procurar alguém que já fez, e sobretudo googlar tudo sobre o seu tutor. Descobrir se ele está dando o curso certo, o que ele já fez, se ele é bom mesmo naquilo que o curso está propondo, e ir atrás. É claro que vale a pena. Só de você estar vivendo uma cultura OPOSTA à nossa (sobretudo se você vive em Fortaleza *rancor*), numa cidade gigante, com pessoas do mundo inteiro... É incrível. E eu faria de novo. Mil vezes. Amanhã. Hoje a noite, pode ser?

Obs: Devo dizer também que, como diriam meus amigos de curso, a moda não te quer. Dos cursos que eu fiz, as pessoas mais legais, o aprendizado mais intenso, tudo... não tinha a ver com a moda. As meninas que fazem curso de modas são magérrimas, antipáticas e vão montadérrimas (afinal, estão em Londres) pra aula. Ninguém quer falar com você porque você se veste normal e não fez aquele penteado desarrumado que em quem é anoréxico fica lindo... E sobretudo porque não está fumando seus cigarros finos (ou ainda enrolando os seus cigarros artesanalmente, vai saber porque) na porta da faculdade. Agora, as pessoas do design, ou que fazem qualquer outra coisa, geralmente são fofas, lindas e simpáticas, prontas para fazer amizade com quem DGAF sobre ser it. Com quem come no almoço ao invés de tomar só missoshiro. Com quem não tem frescura de passar uma horinha sentada no parque, sujando a roupa na grama e sendo feliz.

Obs 2: Mais posts de Londres com certeza virão.




25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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Esse blog está vestido com as roupas e as armas de Jorge, porque ninguém há de copiar esses textos e ilustrações sem dar o devido crédito.