Às vezes eu sinto que viajar é como comprar no eBay: quando você sente o gostinho, fica difícil voltar atrás. Eu sei que essas pessoas existem, mas no fundo no fundo, me recuso a acreditar que tem alguém que poderia viajar mas opta por não fazê-lo, juro. Desde que voltei de Londres, em 2011, constantemente me sinto deprimida com a perspectiva de que estava lá e voltei, e não é só vendo foto ou notícias relacionadas, mas coisas banais e ridículas, do tipo: nossa, choveu, queria estar em Londres. Poxa, olha aquela folha no chão, poderia ser de lá. Enfim. Coisas.
Então resolvi selecionar aqui Cinco Motivos pelos quais eu amo Londres e anseio o dia de voltar para reencontrá-las:
1. Os Parques
Eu sei que parques obviamente não são de exclusividade londrina, mas devo dizer que nenhum me encantou tanto quanto os de lá (parque do Cocó shora). Era um dos meus passatempos preferidos, e se eu me visse sem nada para fazer (o que é praticamente impossível, mas quando se está sozinha às vezes acontece) eu fugia para o parque mais próximo. Para almoçar sentada na grama. Para deitar e tirar um cochilo. Para ler. Para ouvir música. Para ficar só vendo o tempo passar, ou conversando, ou esperando um esquilo dar o ar da graça. Parques são tipo um dos meus programas preferidos, e eu descobri que amo ficar na companhia das plantas e das árvores. No silêncio mesmo, só ouvindo elas balançarem.
Enfim, amo parques, e quero voltar para Londres.
2. O Full English Breakfast
Conversando com um amigo meu, que nasceu e se criou em Londres, descobri que praticamente nenhum londrino toma o full english breakfast normalmente. É algo para ocasiões especiais, ou para quando você sabe que vai ter um dia cheio e não vai dar tempo de comer muita coisa, enfim - no resto dos dias, você se guia com seu chá ou café e o seu pão integral mesmo. Pelo menos foi isso que ele disse. E mesmo assim, não importa onde você vá, em Londres sempre tem cafés oferecendo essa iguaria. E tudo bem, Starbucks é bom, mas nada se compara a tomar café num... café. Com full english breakfast.
É um prato pesado, muito pesado, que consiste em: ovos, bacon, salsichas, feijão, morcela, tomates, cogumelos, feijão, hashbrowns e torradas. Nem todos os lugares oferecem tudo isso, e na verdade, em nenhum que eu fui me ofereceram feijão, por exemplo. E depois de um tempo colocando a salsicha e os tomates pro lado, descobri que poderia fazer o meu english breakfast perfeito: ovos, bacon, cogumelos e hashbrowns. E muito ketchup por cima. E o que são hashbrowns? São tipo bolinhos de batata, algo como batata frita meets purê meets torrada meets nugget. É uma coisa meio indescritível, e eu só soube que era feito de batata quando pesquisei no google depois. Pois é, batata frita com bacon no café da manhã. E cogumelos enormes e gordinhos.
Na verdade, esse era um luxo que me dava somente aos fins de semana, quando podia comer bem devagar e depois me refastelar num parque enquanto fazia a digestão. Até que viajei para a Escócia, numa excursão arranjada daqui de Fortaleza (cheio de senhoras), e fiquei em vários hotéis pelo caminho. Todos eles com essas delícias a vontade. E sendo estudante, não me importava de passar vergonha e comer uma MONTANHA de ovos com bacon e cogumelos, com uma dúzia de hashbrowns entupidas de ketchup. E ainda levava umas torradas enroladas na bolsa, para quando desse fome mais tarde #pobrenaeuropa. E olha que até o momento eu sempre odiei café da manhã, e sempre menosprezei essa refeição idiota que consiste em melões partidos e presuntinhos enrolados.
Se tem um mundo que eu quero viver, é um mundo em que haja bacon com batata no café.
3. As Feiras
Embora a praia seja um programa básico nos domingos de Fortaleza, tudo o mais é fechado por aqui, e se você não tem avós para visitar, acaba tirando o dia para descansar mesmo. Mas lá em Londres em domingo muitas pessoas estão indo para o Columbia Road Flower Market - um mercado para comprar flores. É um passeio muito, muito divertido, porque todo tipo de gente ~legal~ está indo para lá, com seus bigodes, e voltando pelo metrô com tulipas enroladas em papeis. Além das flores, lindas, também tem inúmeras lojinhas ao redor que vendem coisas vintage, e cupcakes, e muita alegria. Num domingo.
Também tem os mercados da Brick Lane, que vendem antiguidades e artesanato, e também cheio de gente estilosa que parece pronta para aparecer no Sartorialist. E o mercado na Portobello Road, onde você pode comprar roupas lindas e baratas, e ver os músicos se apresentando, e ah, tanta coisa.
Mas o meu mercado favorito é o Borough Market: um mercado de comida e ingredientes. Porque quando estive lá, vivi inúmeras vezes mentalmente uma realidade em que eu ia preparar um prato especial e ia sair da minha casa rumo ao mercado, com minhas ecobags, e escolher os ingredientes preparados por fazendeiros e fazer o jantar mais especial ever. Palavras não podem descrever os cheiros e sabores das coisas que são ofertadas por ali, mas me apaixonei pelos queijos, e pelas ervas, e pelos tomates vermelhíssimos, e também pelas barraquinhas lindas de doces que me ofereciam cupcakes confeitados. E nem me deixe começar a falar dos cogumelos do tamanho de pires.
E o local para você sentar e comer as delícias do mercado era esse. Debaixo dessa igreja humilde. Chato, né?
4. Os Programas
Vocês sabem que eu amo musicais. Muito. Então quando tive a sorte de ir à Londres, tinha dois programas imperdíveis em mente: assistir ao musical do Rei Leão, e ao Sing-a-Long da Noviça Rebelde. No musical do Rei Leão eu chorei do começo ao fim, solucei, cantei junto com a voz trêmula e saí do teatro à força, porque queria ver aquilo de novo e de novo, e passar o resto da minha vida inteira sentada naquela cadeira vendo aqueles leões cantarem. E estava passando mais tantos tantos outros musicais, que até hoje eu tenho vontade de me bater por não ter assistido sei lá, todos. Tenho vontade de virar aquelas tiazonas estranhas de óculos fundo de garrafa e blusa I (heart) Musicals.
E o pior (melhor) é que uma vez por ano todos os musicais se apresentam no West End Live, na Trafalgar Square, de. gr.a.ça. Tudo bem, obviamente não é o musical inteiro, com todos os seus artifícios, mas é um show de graça para você sentir o gostinho de Londres. Gente.
E além disso, teve o Sing-a-Long. Não tive dúvidas que tinha chegado ao lugar certo quando encontrei o cinema e vi pessoas vestidas de freira logo na entrada. E um cara vestido de banana. Porque a sessão da Noviça Rebelde tem gente normal, e homens, e, pasmem, héteros fantasiados de freiras. Julguei que eles estavam ali só pela diversão, mas eles cantavam todas as músicas, e gritavam THIS IS THE BEST MOVIE EVER com toda a sinceridade ébria. Uma diva drag-queen nos apresenta a coreografia básica e a respostas que devemos dar em determinadas situações (ex: quando a baronesa aparecer, todos façam barulho de cobra. Hissssssss), e então o filme começa, e todos começam a cantar e a dançar. Fiquei rouca de tanto que gritei, e era como estar na estreia do Harry Potter, só que todo mês, com um monte de gente doida cantando e rindo. Conversei com um cara que estava no meu lado com a esposa, e comentei como estava espantada pela quantidade de homens ali cantando suas favorite things. E ele me respondeu:
- É, tem muito cara estranho mesmo aqui em Londres. Mas a gente se diverte.
Não tenho a menor dúvida.
Os Cookies do Ben.
I can't even -
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