Saudades de Londres

Ontem, hoje e sempre. O blog está passando por mais uma mudança (e eu também!), e hoje, arrumando os arquivos do computador (até ele está se organizando para ir pro Rio), achei esse vídeo que fiz depois que voltei de Londres. Na época achei o vídeo péssimo, mas hoje assistindo me deu uma saudade enorme. Também ando saudosa com tudo, então relevem. E por favor, relevem também o fato do vídeo ter saído tremidaço, não sei o que acontece quando tô com uma câmera na mão, então não recomendo pra quem tem labirintite (de verdade).


Sobre escrever a mesma história durante toda a minha vida

Estou revirando o meu quarto de cabeça para baixo porque vou me mudar, e olha, não tá sendo fácil. Eu sempre morei entre as mesmas quatro paredes desde o dia em que eu nasci, no teto ainda tem o gancho onde foi pendurado o meu móbile de bebê, e no chão tem manchas de tinta de várias tentativas de artesanato durante anos e anos. Mas se tem uma coisa que é recorrente, e que me destrói, é o fato de toda a minha existência ter sido entrelaçada com uma única história, a que eu mais gostei de contar, e que aqui já falei um pouco.

Deve ter sido em 1999, quando eu, com uns nove anos, inventei a Sabrina. Inventei ela completa, 16 anos, cabelos pretos e olhos verdes, nascida no ano de 1983 (?). Eu confesso que devo ter pego a história dela ser a Black Cat de algum episódio aleatório de Homem-Aranha, mas tirando o fato do título e da roupa serem iguais (detalhes), tudo o que seguiu aí passou a ser meu. Era profundamente influenciada, claro, então Sabrina tinha amigas que se transformavam em guerreiras também, e elas lutavam contra o mal, e a Sabrina namorava com o Matt, e no futuro eles teriam uma filha, a Danny, que iria se perder dos pais por algum motivo. Sabrina era princesa do Planeta Felino (sim), Matt o príncipe, e todos viveriam felizes para sempre.

Alguns anos depois, com onze anos, conheci a Monique, e ela embarcou nessa jornada (cilada?) de escrever comigo, e montamos uma história com começo, meio e fim. Tenho os cadernos com as nossas letras de criança até hoje, e amo aquela história. E em 2005, com 15 anos, nos reencontramos e voltamos a escrever essa mesma história, só que com outro viés, e foi com isso que me deparei essa semana, limpando o meu quarto.

Eu já escrevi centenas e centenas de folhas. Milhares, talvez. Todas sobre essa mesma Sabrina, que agora tem olhos cinza claro quase branco, mas continua namorando com o Matt, e que, olha só, acaba mesmo sendo princesa desse mundo mágico chamado Phyra. Só que agora ela tinha uma mãe suicida, pais adotivos maravilhosos, uma amiga gordinha, um cara que não sabe direito se é só amigo dela, e enfim, um mundo todo. Aliás, três mundos. Ao me deparar com essa minha letra de adolescente, preenchendo cadernos e mais cadernos com essa história, não teve como não lembrar de mim. Porque, no fim das contas, essa história sou eu, assim como é a Monique também.

Eu com 15 anos, lidando com o colégio como se fosse meu escritório, no qual eu tinha seis horas diárias para me dedicar ao meu livro e aos meus desenhos (todos, sem exceção, voltados para o livro). De 20 cadernos que devo ter achado nessa limpeza, apenas um continha um tantinho de matéria, e era bem no meio do caderno, e só era de física. Lembro de ter uns catorze anos e guardar, junto ao caderno do colégio, esse caderno do livro. E também lembro de, aos quinze, ignorar solenemente o caderno do colégio, e levar apenas o de trabalho. Porque acho que acreditava naquilo como um trabalho, e aí entra aquela frase clichê de que quem ama o que faz, nunca precisa trabalhar.

E era verdade, porque não existia nada na minha vida que eu amasse mais fazer do que escrever. Esqueça desenhar, esqueça pintar, que também é muito bom. Desenhar é como transmitir o que você está vendo para o papel, você imagina uma coisa, começa, e no fim ela está lá. Ela nunca está do jeito que você imaginou, ou quase nunca, porque ela acaba mudando um pouco, mas pronto. Escrever era como sentir um mundo inteiro dentro de mim fluindo, e eu nunca tinha a menor idéia de onde aquilo tudo iria me levar. Se começasse uma cena com "Sabrina acordou naquela manhã" podia tanto terminar com um dia banal do colégio, como em um episódio sofrido e existencial dela presa. Onde? Quando? Em que momento essa cena se encaixa na ordem cronológica? Eu não tinha a menor ideia, mas mesmo assim, era mais forte do que eu. As cenas saiam completas, ou quase, os diálogos tinham voz na minha mente. Eu era totalmente dominada por esses personagens, por essas vidas, por tudo. Todas as músicas que ouvia me remetia a um ou a outro, e hoje, ao escutar esses cds, lembro um pouco de estar no ônibus indo para a faculdade, mas lembro muito mais daquele momento em que a Sara e o Diego terminaram. Lembro da cortina branca sacudindo na janela daquele cômodo que nunca fui em carne e osso, mas que visitei tantas vezes em minha mente, ouvindo aquela música, que impossível não lembrar dele. Que saudade.

Eu havia separado uma gaveta para guardar todo o material referente ao livro que encontrasse, mas não foi o suficiente, pois eu continuo encontrando pedaços dele em todos os lugares que me viro, e que não arrumei ainda. De vez em quando acho uma cena que a Monique escreveu, e fico besta ao pensar que ela também viveu tudo aquilo comigo, e como ela escreve incrivelmente bem. Como era estar tão dentro desse universo particular, e acho que nenhuma de nós duas estranhava o que a outra tinha decidido porque, no fim das contas, parece que a gente só transmitia o que já havia sido decidido por alguém. O livro era uma benção que nós duas recebemos e colocamos adiante, mas é óbvio que tivemos inúmeros momentos de debater o que iria acontecer, de como fechar as portas que deixamos abertas, e o que aqueles sinais que colocamos iriam significar no fim das contas.

Escrever, para mim, era me sentir completa. Se ler é uma delícia, imagina a ideia de que você está lendo algo completamente inédito, porque até um segundo atrás ele não existia. Mas eu não sabia que, depois desse namoro que é inventar, debater, editar e reler e reler e reler, existe essa fase estressante e em que tudo dá errado, que é a ideia de publicar. A gente sempre sonhou em ser publicada, e hoje vejo com uma cara azeda quem fala que é muito difícil escrever um livro. Não, meu amor, escrever um livro é tão natural quanto respirar, agora tenta publicar essa merda, tenta fazer alguma coisa com isso que não seja entupir dezenas de gavetas com ideias incríveis mas que, infelizmente, não se enquadravam no mercado editorial. A gente tentou de novo, e várias vezes, até o momento em que as rejeições foram mais fortes e a gente acabou perdendo o ânimo de continuar com aquilo. 500 páginas escritas de uma continuação, começamos a achar tudo ruim, a second guess tudo que já havíamos escrito. De fato, uma parte do livro não estava funcionando, mas o fato do primeiro estar morrendo afogado na praia pesava tudo. Então, simplesmente do nada, paramos de tentar.

Só que é simples você deixar algo para o lado e seguir com a sua vida, mas deixa você inventar de se mudar e se deparar com todos aqueles (TANTOS) cadernos, cópias impressas, e cartas de apresentação. E de você sorrir lembrando como era bom. E de você chorar porque talvez realmente fosse a fase mais feliz da sua vida, a de estar sentada com um caderno no meio da sala de aula, escrevendo. Eu sei que os tempos a frente são promissores, são bons, sei que o mercado editorial mudou, sei que podemos publicar independentes, mas havíamos perdido a força para fazer isso. É uma frustração muito, muito grande ser rejeitada, ainda mais quando se acredita tanto no próprio trabalho. Nos ligamos hoje. Choramos ao telefone, e lembramos de um monte de coisa - ei, lembra que a Roberta acha que tá grávida? Ei, você lembra daquele dia em que o Julio brigou com o pai? Por que foi mesmo? -, e decidimos que era momento de tentar de novo.

Mas, primeiro, vamos reler tudo. Temos duas caixas, uma gaveta, uns seis cadernos e umas três pastas de folhas soltas, além de umas 800 páginas escritas do word, e pelo menos uns 13 anos das nossas vidas adolescentes pela frente. E, se você quer saber, sinto que dessa vez vai dar certo.


Bad Hair Life



Eu tenho uma amiga, que eu já falei por aqui várias vezes, que é maravilhosa e praticamente não parece real. É o tipo de estereótipo de beleza que todos nós deveríamos querer seguir (e queremos, geralmente, mas que é impossível para a maioria) da magra e loira. Todos os dias ela chegava no trabalho impecavelmente maquiada, e com o cabelo platinado sempre muito bem arrumado, com as pontas levemente onduladas, a franja reta e sem uma gota de óleo. Uma menina disse:
- Ai, que sonho, queria ter o seu cabelo.

Ao que a Flávia respondeu:
- É só você acordar uma hora mais cedo, secar com secador, passar leave-in bom e um babyliss.

A parte de fazer tratamentos mensais em salões caros era subentendida. O pior é que a proximidade acabou me fazendo ver outros lados do cabelo sempre magnífico loiro da Flávia, que era fino, que tinha uns fiapos estranhos everywhere, enfim, cabelo como todo cabelo do mundo. Tem dias bons, tem dias ok, tem dias cruéis e tem dias lindos.

Mas aí tem o meu cabelo.
O meu cabelo.

Apenas nasci na época errada


Em fotos eu engano, tem todo aquele discurso que a Flávia falou de sair mais cedo, fazer escova, etc. As pessoas se surpreendem, acham que é brincadeira, até que elas pegam um pouco mais de intimidade e percebem isso mesmo. Meu cabelo é simplesmente o cabelo mais rebelde e absurdo que eu já vi, uma evidência clara que não se pode ter tudo, que quem manda na sua cabeça não é você, que a vida não é bem assim.

Juro que um dia foi assim




Quando eu tinha uns 14 anos ele era bem cacheado, mas aí eu fiz uns 18 e ele melhorou bastante. Aos 19, era lindo, de fazer inveja. Nesse período fui para uma festa de formatura cheia de gente com olho gordo e ele caiu inteiro, eu cortei curtinho e ele ficou liso (?) (foto acima), e então cresceu. Continuou tendo momentos bons e momentos ok, até que, BUM! Olha só, você dormiu com um cabelo bom, e acordou com essa vassoura esfiapada aqui na sua cabeça. Quem foi que achou que eu não ia notar a diferença?

O pior de tudo é ouvir os seguintes comentários:
- Mas você tem que fazer hidratação em casa.
- Olha, mas sua fibra é boa, ela só é meio rebelde.
- Nossa, mas não é que o toque é bom?

Eu pago xampus caros, cremes caríssimos, leave-ins que não duram nada no meu armário, óleo especial miraculoso, essas coisas. Eu nem seco o cabelo! Não é que ele seja maltratado de tanto eu puxar com a chapinha, ou daquela minha atividade física incrível que envolve suor, sal, mar e parafina. Não. Eu lavo o cabelo a cada dois dias, passo creme (caro! CARO!), eu passo leave-in, eu seco com toalha de algodão, eu compro pente de madeira, enfim, faço o que for para essa caralha ficar bonita.

E. não. fica. Nunca. Mais.

Não sei se foi macumba que jogaram, mas já acendi velas e pedi pra Deus e nossa senhora tirarem esse negócio de mim. Quero meu cabelo de volta! Me mostre uma técnica que eu não tenha tentado. Só fica bonito com escova, e eu não sei fazer escova, então o que posso fazer? Gastar rios de dinheiro e maltratar ainda mais com o calor? Não tem um relativo à são longuinho, do tipo, se você fizer meu cabelo ficar bom, eu dou uns mil pulinhos?

Não sei se meu cabelo gosta é de apanhar. Será que se eu lavar com sabão de côco ele para de ser essa piada e volta a ficar bom? Duvido. Enquanto isso, sigo testando todas as novidades capilares, e aprendendo cada vez mais a fazer penteados (viva o Pinterest), porque apenas MB e minhas amigas para me verem todos os dias acordar com essa juba e continuarem me amando.

Aqui vai uma foto para vocês não falarem que estou exagerando.


Aceito Jabá da Kerastase

Pedaços amorfos de cabelo que não forma cacho e se odeia tanto que se repele, cachos amassados estranhos e uma dose extra de frizz para coroar. Quero ver Dove me chamar pra fazer propaganda de xampu para cabelos indisciplinados.

Não sei a quem agradeço por ter colocado os coques de volta à moda, e se vocês um dia me verem de cabelo solto bonito, saibam que foi um alinhamento de planetas. Ou então que acabei de gastar mais quinhentos reais no salão num novo tratamento que disfarçou tão bem que, na próxima lavada, meu cabelo fará questão de renascer mais volumoso e mais bizarro.

Por favor, volta.


Ah, e pra completar, mês passado decidi cortar uma franja.

Projeto Amor


No começo de abril (que todo mundo está cansado de saber que foi o pior mês do mundo), eu e MB decidimos ter 42 primeiros encontros de novo. Não sei porque demorei tanto a escrever sobre esse projeto aqui, mas, bom, cá estou eu.

Nesse ínterim, talvez pela presença maligna de Mercúrio sobre todos os signos, a gente viajou, brigou, chorou, fez greve de fome, e voltou. Mas voltar a ler esses posts já escritos faz meu coração reacender de amor, e bom, eu precisava postar aqui. Precisava falar um pouco mais sobre esse amor que eu já escrevo tanto sobre numa tag aqui do blog, e o melhor, ver o que também ele tinha para me dizer sobre isso também. Demos uma pausa no ápice dos desentendimentos, e agora esperamos o melhor momento para retomar esses últimos 20 dias de amor e de paz, que quem sabe também não marque outros recomeços.

A rotina às vezes sufoca, o amor vira aquele sentimento tão banal que beijar é mais um reflexo que uma vontade. Mas, posso ter certeza, que mesmo depois de 8 anos (!!!) juntos, ainda consigo olhar para ele e me apaixonar um pouquinho todas as vezes.

E espero que todo mundo que lê esse blog possa se apaixonar também.

PS.: Sempre tem ilustrações!
PS2.: Quem quiser comentar no blog, compartilhar o projeto no facebook, e espalhar o amor será recompensado com MAIS AMOR. Mãe Gabriela garante.
PS3.: Quem quiser fazer post indicando (isso ainda existe?), colocar link, meu Deus, posso mandar um beijo?

4 de maio, e a gente

Há dois anos atrás, a Máfia decidiu fazer um meme no qual todas nós postaríamos, anualmente, sobre o dia quatro de maio. A data foi escolhida de forma aleatória, o primeiro eu perdi, e o segundo você encontra aqui. O que ninguém sabia era que o terceiro seria tão, tão especial.

Já foram-se dois encontrões que eu participei e que passaram batido sem post - o primeiro, em Curitiba, em que eu fiquei aterrorizada. E se elas não gostassem de mim? Passei o vôo inteiro com frio da barriga, mesmo já tendo conhecido a Milena e a Anna Vitória em outras oportunidades. Cheguei, esperei, e quando vi fui recebida por um abraço coletivo maravilhoso, e que naquela hora eu simplesmente soube. Fiquei calada boa parte do tempo (eu acho), porque todas me acharam quietinha. No segundo encontrão, em São Paulo, tudo já estava natural, e eu não podia me sentir melhor rolando no chão da casa da Renata, dando sinopses furadas de filmes péssimos e depois brincando de Imagem & Ação. Eu, que odeio jogar. Mas é que... Quando estou com vocês, deixo de ser eu, e viro a gente.

Deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu sempre fui um "a gente". Na época do colégio, a gente ia fazer o trabalho. A gente ia fazer um pôster legal. Até mesmo no meu relacionamento, e na minha família, acontece de vir de uma forma ou de outra aquela frase: a gente precisa fazer tal coisa. Só que esse a gente, na verdade, sempre significou que eu iria fazer tal coisa sozinha, mas que teria apoio moral, risadas, e o que mais fosse. A gente precisa fazer significa, olha, você precisa fazer tal coisa, mas eu tô aqui te olhando.

Só que aí chegamos no Rio, na última quarta-feira, e o Rio inteiro parecia ser a nossa casa. Dos pais da Paloma sendo maravilhosos e mandando a gente se sentir à vontade, quando a gente já estava deitada de pijama rolando no chão e abusando do wifi há horas. De quando a gente se vestiu de rosa e foi ser viking no Outback, e da conexão gordice que eu e a Giu estabelecemos imediatamente e para todo o sempre. De quando a gente me mandou lavar o cabelo e secar, e a gente garantiu que ia dar certo, só pra segundos depois a gente cair na gargalhada da merda que tinha ficado. Da gente não ter conseguido seguir horário nenhum, mas quando a porra ficou séria e eu e Deyse fomos tirar nosso visto, a gente conseguiu manter um plano perfeito. De quando a gente chegou na casa da minha avó, e a gente chorou quando ela inventou um presente fofo, e segundos depois a gente quebrou a cama de hóspedes, e ela riu.

Quando a gente decidiu que o Natal seria no dia 1o de Maio, e foi. E a gente trocou tanto presente, que juro, voltei a ter esperanças e gostar do Natal. Porque foi um dos momentos mais mágicos da minha vida, estar sentada naquele colchão inflável, sendo presenteada, distribuindo amor e abraços. De quando a gente não conseguia passar um minuto sem se abraçar. De quando a gente brincou com papel na testa, e eu que odeio brincar, me diverti horrores. De quando a gente foi pra praia de ônibus, confortavelmente, enquanto a gente ia fazendo bagunça de bicicleta na Ciclovia. De quando entramos correndo no mar, como se nunca tivéssemos visto tal coisa na vida, e eu nem escutei a voz da minha mãe me dizendo para jamais tomar banho de mar no Rio. É frio, é perigoso, a correnteza te puxa. Caímos todas na água de mãos dadas, levamos caldo, e fomos espalhar areia no chão da Cultura. Quando a gente se deitou ao meu lado, e me ouviu ler um livro maravilhoso, que a gente prometeu comprar correndo depois.

Quando a Analu e a Anna se perderam na livraria, e disseram: nossa, onde é que a gente pode estar? E é óbvio que a gente estava deitada no chão. E é óbvio que os funcionários da Cultura até hoje encontram areia nas almofadas. Foi nessa justa hora que reparei que a gente era... A gente.

De quando a gente passou a noite trocando figurinhas, e comendo pizza, e depois dormiu em camadas. De quando a gente brigou, e chorou, porque só se briga com quem se ama muito. De quando a gente comeu um churrasco que não era gaúcho, e tomou as melhores caipirinhas feitas por uma pônei, e riu, e cantou. A gente cantou a viagem inteira, do começo ao fim, em qualquer lugar. Não sei como a gente não cantou em pleno consulado americano, ou pelo menos saiu cantando de lá quando conseguimos tirar o visto. Mas a gente cantou. E muito, e qualquer coisa. A gente se arrepiou quando estava deitada de roupa, nas areias de Copacabana, e lembrou que o Chico avisou para a gente não se afobar não, que nada é para já.

Mas a gente tinha que ir embora, e a gente chorou no aeroporto. E a gente perdeu o vôo, e voltou, mas a gente também teve que ir embora.

No dia quatro de maio de 2014, eu estava em casa. Ao contrário do ano anterior, que eu fui tão produtiva que nem acredito, nesse ano eu dominguei. Dormi boa parte do dia, exausta, joguei videogame, li um pouco, dei atenção ao MB que estava há mais de uma semana sozinho. Saímos para jantar, e dormi cedo. Estava sentindo uma dor terrível, uma ressaca péssima, que eu só posso concluir como sendo um coração partido de saudades da gente.

Demorei uma vida inteira, viajei, me formei e trabalhei, para encontrar a gente. E chegar à conclusão que, apesar de sofrer, meu Deus, como a gente é feliz.

Para que se a gente para o mundo para



Querida Gabriela,

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva de Março do Rotaroots.
A ideia original, de escrever uma carta para você 10 anos mais jovem, é do site Hypeness.
Eu sei que nós já nos conhecemos tem algum tempo, especialmente porque recebi aquelas inúmeras cartas que você adereçou para a Eu do Futuro. E hoje quem está aqui sou eu, para te contar algumas coisas.



Eu sei que ter 14 anos é complicado, e seus problemas parecem os maiores problemas do mundo. Não vou te dizer que eles não são, mas posso te deixar adiantado que problemas ainda maiores aparecerão na sua frente, e você irá resolvê-los, um a um. Não te peço para ter calma, porque nós duas sabemos que somos calmas até demais. Só continue fazendo o que você vem fazendo, e pronto. Escrever no diário ajuda mesmo.

Não deixe que eles te façam acreditar que você é feia. Que é errado ler, e é errado escolher passar o tempo com as suas amigas, que você deveria estar aí beijando na boca. Vou te dar um gostinho: a menina que te disse isso já tinha filho quando você estava entrando na faculdade. Mas Gabriela, vamos aprender desde cedo a não julgar ninguém: deixa ela. Não importa. De verdade. Tudo bem, aos 14 anos, a gente não seguia padrão de beleza algum, embora a mamãe diga que a gente não mudou tanto assim. A nossa mãe sempre tem razão, mas eu te digo que você irá ser mais bonita um dia. Basta começar a acreditar em si (e cortar o cabelo). Ah, sim, e seu corpo é lindo. Lindo. Tente parar de ter tanta vergonha dele. Isso que você chama de celulite não é nada demais.

Ame as suas amigas. Acredite que é para sempre, e aproveite cada minuto que puder ao lado delas, porque elas são sim incríveis, a amizade que vocês têm é maravilhosa. E um dia você vai ver que amizade, assim como amor, também acaba, e você vai sofrer muito, e eu gostaria de te consolar. Eu sei que você sente que, dentro de você, existe uma melancolia, um saber além de tudo. Eu sei que você sempre soube que não era para sempre. E não foi mesmo, mas olha, foi sim muito bom. Então aproveite. Você será muito feliz nas tardes de brigadeiro, nas noites acordadas rindo e fazendo planos. Esses momentos serão infinitos, e serão para sempre uma lembrança maravilhosa para nós.

Você sempre se enganou dizendo que iria estudar no ano seguinte. Você não vai. Nem no vestibular. Eu não sei qual é o nosso segredo, mas nós iremos conseguir passar por todas as provas. Você vai ficar de recuperação no segundo ano, mas isso não vai te mudar, e sinceramente, não é o fim do mundo. Continue escrevendo e desenhando em todas as aulas, encha os seus cadernos, esqueça que eles são para anotar a matéria. Escreva livros, acredite neles, se perca no mundo que você construiu. Vai ser uma experiência maravilhosa, e você vai lembrar para sempre como era bom passar horas e horas escrevendo.

Acredite na sua arte, desenhe mais, compre mais materiais, teste mais coisas. Não tenha medo. Você irá passar anos e mais anos na sua vida fazendo desenhos incríveis de lápis - e que problema tem em começar a tentar colori-los? Você não vai estragar tudo. E se estragar, e daí? Você pode sempre fazer mais. Desenhe até quebrar suas lapiseiras e encher seus dedos de calos. Não vou te enganar e dizer que isso irá ser recompensado um dia: aos 24, ainda não foi, mas vamos aguardar a Gabriela de 34 para nos dar alguma luz. Não jogue seus desenhos fora.

Você vai usar tênis legais e eles irão rir. Depois todos estarão usando. Você irá sair na rua de óculos grande e todos vão rir também, mas depois vão pedir emprestado. Acredite no seu estilo e em você, e não ligue para o que os outros estão falando. Se der vontade, use, faça, e pronto. Eu sei que você não se preocupa com nada de importante, e que nunca parou para pensar para o que vai fazer vestibular, mas se me permite dizer, você irá ser estilista. Você vai achar que tomou o rumo errado da sua vida diversas vezes, mas cá entre nós, acho que você tomou o certo.

Continue amando Harry Potter, e não tenha medo de gritar isso ao mundo. Não tenha medo de fazer amigos novos, de se aproximar de pessoas que tem os mesmos gostos que você. Essas pessoas são tão tímidas quando você, e poderiam ser receptivas, se você tentasse. Eu sei que você sempre quis sair de cosplay, mas tinha vergonha. Não vou te contar se saímos ou não de cosplay algum momento na nossa vida, isso aí vai ficar ao seu critério. Não tenha vergonha de gostar do que gosta.

Você vai fazer tatuagens. Seu cabelo irá melhorar, mas depois irá piorar de novo. 

Eu sei que você esperava que eu estivesse num lugar completamente diferente do que eu estou hoje, nessa idade tão distante que é ter 24 anos. A gente ainda estará aqui, no mesmo quarto, mas já vimos tantas coisas incríveis nessa (curta) vida, que você irá se sentir feliz e plena. Eu prometo. Nós viajamos, Gabriela. Nós fomos a Londres, só eu e você. Nós viajamos a trabalho! Nós iremos a ainda mais lugares incríveis, eu te prometo.

Agora, a parte que eu sei que você esperou essa carta inteira para ler. Você vai dar o seu beijo esse ano. E não, vocês não vão ser felizes para sempre. Aliás, você vai sofrer um pouco, e logo em seguida já terá esquecido desse carinha. Mas você ainda vai sofrer um pouco, sim, por meninos que não sabem que você existe, por alguns que sabem muito bem quem você é. Você já percebeu isso (você era muito esperta, minha nossa!), mas, vai por mim, esquece esses meninos bonitos. Eles não valem a pena, ficam gordos, essas coisas. Ser legal é muito mais importante que ser bonito. Mesmo sabendo disso, é inevitável, você irá sofrer, achar que vai ficar sozinha pro resto da sua vida, porque você é feia.

Mas deixa eu te contar uma coisa: daqui a dois anos você irá conhecer o homem da sua vida. Você irá reconhecê-lo no minuto em que vocês cruzarem o olhar, e você vai ter certeza absoluta que é ele. E é ele mesmo. Ele tem olhos verdes, caso você precise de mais alguma informação. E daqui a 9 anos, ele irá te pedir para casar com você. E você vai aceitar.



Não, ele não usa bigode o tempo todo, mas acredite quando eu falo que você vai adorar ele até assim. E quer saber de outro absurdo? Você até vai querer ter filhos!

Então.
Calma.
Respira fundo, little Gábi.

E saiba que eu estarei aqui, sempre, do seu lado, pelos próximos dez anos, vinte, trinta. Amando você.

Sobre ter 24 anos e muitas saudades

Quando eu tinha 11 anos e conheci a minha melhor amiga, nós costumávamos sentar na cama e ficar brincando de prever o futuro. Achávamos conforto nas nossas adivinhações, e sim, iríamos ser melhores amigas para sempre. Ela, cansada de se mudar, iria se estabelecer em Fortaleza. E eu, cansada de ser deixada para trás, também iria encontrar a redenção em ter uma melhor amiga que não fosse embora. Porque, veja bem, aos 11 anos eu já havia passado por não menos que três melhores amizades da vida inteira que se rompiam. E três amizades aos 11 anos é muita coisa. A Fernandinha, minha melhor melhor amiga da época do maternal até a alfabetização, acabou se mudando. Não sabíamos usar o telefone ainda, então sequer tivemos chance de trocar de números. A Andrea, que morava aqui do lado de casa e vinha brincar de boneca todo fim de semana, se mudou para Recife. E no final do ano, uma menina que sempre estudou comigo mas nunca calhou de ser minha amiga encontrou em mim a melhor das amizades, só para ir pra uma cidade vizinha meses depois.

E foi com esse trauma que conheci a Monique, e qual foi a minha surpresa quando ela me contou que iria se mudar. No fim do ano. Para outra cidade. Aos 11 anos isso doeu, mas já podíamos ligar uma para a outra, e mandar emails depois, passando pelo mirc (sempre com uma ligação rapidinha antes: entra agora, estou on!), msn. Já falei aqui que a Monique voltou, passou um ano aqui, foi embora de novo, voltou mais uma vez durante a faculdade, e, mais uma vez, foi embora. Mas a nossa amizade sempre foi assim, e essa distância e todos esses anos nunca diminuíram a relação que a gente construiu.

Depois desses problemas recorrentes de melhores amigas que vão embora, fiz uma promessa à mim mesma que não iria mais arrumar amizade com quem se muda. Não, obviamente não tinha como saber, mas mal sabia eu que não é preciso que uma das partes se mude para que uma amizade acabe; aliás, aprendi da maneira mais difícil e dolorosa que a amizade, como o amor, sim, acaba. E dói, e a gente chora, mas... Passa. E o pior é que, quanto mais velha a gente fica, mais complicado fica fazer novas amizades, e mantê-las, e conquistá-las com a mesma intensidade que conseguíamos aos 11 anos. Experimenta ter 24 anos.

Experimenta ter 24 anos e, cansada, encontrar uma amizade incrível com meninas incríveis que, infelizmente, calham de morar uma em cada canto do Brasil. Porque eu me achava uma PhD em saudade, já que por anos não sei o que é viver sem esse sentimento, mas ainda não sabia como podia doer. E dói. E dói muito. Mas me sinto tão completa por tê-las por perto (mesmo que longe) que, na maior parte do tempo, acho que moramos todas no mesmo prédio, que irei comer um brigadeiro com a Flá mais tarde, que todas iremos para a colação de grau e formatura da Analu, que eu posso levar a Dindi para brincar com o Chiquinho e sair para ajudar a Dedê e a Milena a comprar roupa. A maior parte do tempo.

Acordei no meu aniversário com as piores expectativas, pensando logicamente que quanto menos eu me decepcionar melhor. Que tudo que vier de bom com esse dia, que está fadado ao fracasso, será um lucro. Fui trabalhar, sentindo o peso de ser adulta, e passei o dia recebendo ligações e recados. Todos recheados de amor, tornando aquele dia bosta num dia feliz, e com a mesma mensagem:

Queria estar aí para te dar um abraço.

Minhas amigas compartilhando fotos lindas que tiramos em encontros passados, Monique me ligando à noite, minha avó ligando do Rio, meu avô ligando da sua casa e me prometendo uma visita depois. Sinta-se abraçada. Que saudades de você! Depois te dou um beijo.

Engraçado esse sentimento de ser amada, e de ter partes suas espalhadas por aí. De saber que tem pessoas que te amam, e mesmo você estando a milhares de quilômetros de distância, ligam, e ligam, e te desejam amor, e te desejam uma felicidade super sincera. E dizem que infelizmente eu não estou aí, porque o que na verdade o que eu queria era que o aí fosse aqui, e vice-versa.

Recebi ligações, mensagens, muito, muito amor. Mas, quando tudo isso se foi, eu estava sozinha, no meu quarto. É que sempre tem uma parte de mim que fica para trás.

25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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