Sobre casar


É muito difícil descrever um dos dias mais felizes da sua vida. É praticamente impossível descrever a sensação, o frio na barriga, a iluminação intensa que parecia irradiar de dentro de você. Como viver os seus vinte e cinco anos sentindo-se transbordando? Não dá pra chegar nesse dia inteira, sem ter tido muitos dias felizes antes. Minha melhor amiga (pois todas as minhas amigas são as melhores, de acordo com a própria), me disse que se a gente achar que o dia do nosso casamento é o dia mais feliz da nossa vida, tem algo de muito errado na nossa vida.

Deve ter sido por isso que, quando posta para descrever esse dia que foi esse que seria o dia mais feliz da minha vida, eu me embaralho toda. Tudo foge da ordem, as palavras ficam meio sem nexo, o que estou fazendo? Começo a lembrar de um monte de coisa ao mesmo tempo, vários flashes de um dia tranquilo, e uma noite intensa, e uma vida inteira que me carregou até esse momento. Os outros dias felizes. Os próximos dias felizes.

Casar foi como mergulhar no mar de um dia de verão, depois de uma festa inesquecível. Foi que nem aquela vez que fiquei na varanda da casa da minha avó até depois da hora de dormir, enquanto ela me confidenciava histórias. Foi cantar parabéns com minhas melhores amigas aos quinze anos, e depois cantar parabéns com minhas novas melhores amigas aos vinte e cinco, com uma vela da Peppa. Foi como ter uma crise de riso porque uma amiga perdeu uma meia que ela já tinha calçado. Foi como dar aquele beijo subindo as escadas rolantes e sentir um frio na espinha, melhor que qualquer montanha russa. Foram aquelas férias que eu passei inteiras plantando bananeira debaixo d'água, achando que era sereia. Foi nadar nas costas do meu pai, na nossa praia. Foi cantar com ele Bohemian Rhapsody até a gente chorar. Foi segurar a minha filhotinha pela primeira vez. Foi abraçar a minha mãe voltando pra casa. Casar foi tudo isso, mas ao mesmo tempo, foi muito mais. Foi tão mais.

É uma coisa muito louca, porque demoraram dias até que eu me desse conta que eu já tinha casado. Veja bem, você passa meses planejando todos aqueles detalhes. São inúmeras reuniões, planejamentos, orçamentos, planilhas, e também amizades. Porque é um momento tão especial que você precisa confiar em todos que estão ali para fazer dar certo. Você tem que se entregar. Então, você já se entregou, você contou os dias, e o dia chegou. Simplesmente não dá pra acreditar que o dia chegou. Mesmo já estando nele.


Posso tentar romantizar o dia, mas foi uma grande sucessão de surpresas e uma voz dentro de mim me explicando tudo, porque eu mesma estava sem entender nada. Meu Deus, eu tô no salão para me arrumar. Meu Deus, eu sou a noiva. Meu Deus, eu estou pronta. Meu Deus, eu tô dentro do carro indo me casar. Meu Deus, eu cheguei. Meu Deus, essa é a música dos padrinhos, eles já estão entrando. Meu Deus, essa é a música do Marcelo. Meu Deus, essa é a música das meninas. Meu Deus, essa é a minha música. Pera um pouco. Essa sou eu. Eu estou casando. Eu estou entrando no altar? Eu sou a noiva? Eu estou falando meus votos? Eu casei? Essa festa é minha? Todas essas pessoas estão aqui por minha causa?!

Eu olhava ao redor tentando absorver tudo, mas como passa rápido. Eu precisaria ter mais uns quatro pares de olhos para poder acompanhar tudo, para poder estar em todos os lugares, para poder agradecer a todos. Eu já tinha ouvido das minhas amigas que casaram como passa rápido. Passa umas duzentas vezes mais rápido do que rápido. Casar é um suspiro. Suspira. Suspirou? Foi rápido assim.

Mas depois que passou, essa noite fugaz, alguns momentos ficaram. Minhas amigas invadindo a minha suíte de noiva. Dindi entrando com as alianças e me fazendo chorar. Dançar com meu irmão, que está no topo da lista das minhas pessoas favoritas do mundo, e com meu avô. Queria que minha avó estivesse vendo, mas ao mesmo tempo, sei que ela estava. Pedir pro DJ tocar Blank Space para A Gente cantar. Minhas amigas do colégio, minhas amigas do trabalho. Tanta gente que veio de fora, que pegou avião, que perdeu avião, que moveu mundos e fundos para estar comigo ali naquele dia.

E sobretudo, ele. Ele que fez aquilo tudo começar, ele que teve a ideia original da gente largar tudo e se casar num sábado. Assim como eu, ele descreveu o dia como um dos mais felizes da vida dele. Mas posso dizer que acho que nunca vi o Marcelo tão feliz como naquela noite, me olhando de um jeito que eu nem acredito, a gente sendo mais ainda um do outro. Essa cumplicidade que existe entre a gente, a de fazer piada no meio da cerimônia séria (o vaso de areia pesava 20kg), essa troca de olhares de segundos que significa o mundo inteiro: não importa o que digam, o que desejem, o que conspirem, o que preguem por aí. A gente se olha. E a gente sabe. E todo mundo que importa sabe também.

Foram beijos, foram danças, foram vários drinks, foram muitas risadas. Foi olhar para o lado e não acreditar que aquele momento infinito era nosso. Era todo nosso. Eu não estava cabendo no meu corpo de tanta felicidade. Eu estava em tudo ali, na decoração, na festa, nas músicas, na bebida, nas árvores, no céu que permaneceu estrelado a noite inteira, apesar do clima tempo ter dito o contrário (foi o ovo). Talvez isso realmente seja se sentir infinito.

Então para mim, só cabe agradecer. Obrigada por terem ido, obrigada por terem feito uma festa maravilhosa. Obrigada à minha mãe, que embarcou em absolutamente todas as minhas loucuras, que foi meu braço direito esquerdo dois pés e cabeça, que de tão maravilhosa eu não consigo nem encontrar formas para agradecer. Mãe, obrigada. De verdade. Obrigada pelas minhas amigas que atravessaram o Brasil, obrigada por terem dividido o colchão comigo, por também ter embarcado nessa loucura, por cantar Alpiste num barzinho, por fazer esculturas na praia. Obrigada à minha mãe de novo por ter aguentado a Gente nos dias mais estressantes de todos. Obrigada ao meu pai por ser maravilhoso e único, por ter dançado a festa inteira, por ter se comportado como nunca. Obrigada ao meu irmão. Obrigada à minha avó por ter tido a coragem de andar de avião depois de 10 anos. Obrigada aos meus sogros, sobretudo por terem feito esse milagre que é o Marcelo. Obrigada aos meus cunhados pela gravata. Obrigada ao cerimonial, aos fotógrafos, ao DJ paciente, à banda, aos amigos que foram, aos amigos que não foram, mas que se fizeram presentes. Obrigada à minha BFF pelas suas mechas rosas, obrigada a amiga que foi de muletas, obrigada. Obrigada ao Renne por ser a vela mais duradoura, e dono de um discurso maravilhoso. Obrigada pelo texto maravilhoso. Obrigada Dindi por ter sido a daminha mais linda do mundo. Mas é bom parar, senão não consigo terminar esse post nunca. Desculpa quem eu esqueci, e obrigada.


Desculpa a falta de linearidade do texto. Desculpa quem veio aqui várias vezes esperando que esse post fosse ao ar, e que nele tivesse uma narrativa desse que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Não tem como narrar e ser coerente. Quer coisa mais incoerente do que duas pessoas, no meio desses bilhões de pessoas que tem no mundo, que se encontram, que se apaixonam, que nunca desistem uma da outra, e que decidem se casar?

Então, eu casei. Eu casei com o meu melhor amigo, com o amor da minha vida, nessa que foi a noite mais importante das nossas vidas até agora. Porque daqui pra frente, temos a vida inteira para nos sentirmos infinitos juntos. E você quer mesmo saber? Já somos.


Meu marido.

25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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