O Outro Lado

Posso ouvi-los me chamando. O quarto está escuro, e suas vozes são quase sussurros; mesmo assim, são reais. Não sei ao certo o que querem de mim, só sei que me chamam. Tento procurar a fonte de suas vozes, e tateio pelas paredes cegamente, a procura de algum indício de fuga, alguma chance de saída. Sei que eles estão fora - por qual outro motivo soariam tão alegres?

Meus dedos batem numa superfície fria, e com o tato consigo destinguir uma maçaneta. Uma porta. Agora, as vozes soam mais claras. Estão se divertindo, estão rindo. Aproximo o meu ouvido da superfície (seria de madeira?). Consigo ouvir outros sons, junto de suas vozes, agora tão claras: tilintar de copos e talheres, uma música ao fundo, risadas. Estão numa festa, e eu estou aqui. Eles me chamam.

Aperto a maçaneta com a mão com firmeza: irei atender ao seu chamado. Mas, antes de virá-la, o momento de hesitação. Não sei se devo. O que me espera do outro lado? Não, não posso. Prometi que ficaria ali. Prometi a todos, e a mim mesma, que não sairia daquele lugar enquanto não fosse a hora. Entretanto... Já se passara tanto tempo, como saberei quanto dele ainda falta? Alguém virá me avisar? O que devo fazer?

As vozes me chamam, mais uma vez. A música para. Os barulhos cessam.
Fica no ar apenas um murmurinho, uma respiração lenta e entrecortada, como se o outro lado hesitasse também, à minha espera. O silêncio é ainda pior que o barulho mascarado. O que eles estão fazendo? O que aconteceu com a festa? O que devo fazer?

A hesitação faz com que meus dedos tremam, e a minha respiração comece a falhar. O nervosismo toma conta de mim, mas subitamente, sei o que fazer. Não posso mais esperar. Com uma determinação que certamente não era minha, giro a maçaneta de uma vez. A luz invade os meus olhos. Eu entro.

25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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Esse blog está vestido com as roupas e as armas de Jorge, porque ninguém há de copiar esses textos e ilustrações sem dar o devido crédito.