Séries, sejem menas: duas resenhas e um apelo

Esse ano foi fraco para leitura, mas depois de ter tanto tempo livre assim nas suas mãos, eu e MB começamos a acompanhar algumas várias séries. O meu gênero favorito de série é, provavelmente, séries criminais, ou com algum elemento fantástico. Não tenho paciência para drama. Mas cara, como tá difícil assistir e gostar de alguma coisa. Resolvi escrever sobre duas séries que vi esses dias para tirar as teias de aranha daqui do blog, então vamos lá.

Hannibal

Comecei a ver Hannibal com a promessa de que seria ~ a melhor série atual ~, que era inteligentíssima, e que ia estourar os meus miolos de tão incrível. Mas não. Hannibal foi uma série que vi inteira com MB e que amamos odiar: assistimos episódio após episódio com face palms, ataques de raiva, e inúmeras discussões.



Pontos positivos:
A fotografia é realmente linda, a trilha sonora completa o ambiente. A série é muito bem construída esteticamente, cheia de metáforas e representações. Vemos o Hannibal como um demônio (igual à Besta de Over the Garden Wall), visões que representam o medo, e a real faceta dos personagens. A atuação também é muito boa. A série também cria uma rede de acontecimentos que te faz profundamente curioso para saber o que aconteceu. Fora que os crimes são cabeludíssimos e super bem elaborados (assisto séries de crimes há séculos e nunca vi nada disso na vida), pena que a equipe é burra.

Gostei do arco do Dragão Vermelho, e acho absolutamente cliffhanger a forma como acabou a última temporada. Vou assistir a próxima? Possivelmente.

Outra coisa que a série ganha é por fugir da história original, focada apenas em homens héteros brancos. Jack, o grande guru do FBI, é negro. O gênero de alguns personagens é trocado, como o da Freddy Lounds, a inclusão de mulheres fortes como a Dra. Psiquiatra do Hannibal e a personagem totalmente desnecessária da Dra. Alana Bloom.

Desenho é de criança? Sei. Olha a cara dessa besta.
Quero ver Will Graham ter empatia com isso.


Pontos negativos:
Vários personagens não tem absolutamente nada para fazer ali, e no entanto, a lá eles ali. Alana Bloom começou como interesse romântico do Will, mas foi se ~ transformando ~. A série usa de elementos estéticos para embasar os personagens, o que podia ser bom, se não fosse completamente implausível. Por exemplo, na hora que a Alana deixou de ser a garotinha boa que só queria ajudar, ela começou a usar batom vermelho, roupa decotada, e a pentear o cabelo fazendo ondas dos anos 40. Gente, menas. Garotinhas boas também usam batom vermelho. Não precisa dessa metáfora de roupas para a gente perceber que ela mudou. O figurino inteiro da Freddy Lounds não faz o menor sentido, ao ponto de me incomodar profundamente, nível Jurassic World - o que esta louca está fazendo de mini saia e blusa transparente no tribunal, ou em casa? Que horas que ela teve tempo de fazer esse penteado no cabelo? Por que a moça oriental do FBI faz o trabalho do CSI, mas está sempre de cabelo solto?

Os personagens não seguem a essência deles, e não é evolução. Os autores simplesmente esquecem das coisas, como, por exemplo, que o Will estava "dentro do espectro" e era autista nos primeiros episódios. Apenas nos primeiros. Depois, olha aí o Will olhando dentro dos olhos de todo mundo. Um dia desses eu li como as séries tentam colocar doenças psicológicas que se auto curam após determinados eventos - talvez a do Will tenha sido no momento em que ele matou o Garet Jacob Hobbs (não foi spoiler porque foi bem no começo?), aí ele pensou: peraí, não sou mais autista? 


Comentei acima que a rede de acontecimentos é bem forte e instigante, mas eles fazem de tudo para que a gente fique ligado, e acabam tentando enfiar coisas goela abaixo. Personagens que não tem absolutamente nada para fazer na cena do crime estão ali, centenas de vezes. O universo peca por ser tão raso. Por exemplo, só existe um psiquiatra na cidade inteira, o Hannibal, centenas de crimes acontecem ao redor dele, e a polícia jamais suspeita. Nunca, em momento algum.

O que leva ao próximo tópico: o FBI retratado em Hannibal é o pior FBI de toda a ficção. Eu não sei vocês, mas eu estou acostumada com equipes do FBI que resolvam crimes, que cheguem para salvar a pátria, e que sabem muito bem o que estão fazendo. O FBI do Hannibal não faz. a. menor. ideia. de. nada. O grande chefe, o Jack Crawford, tido como o guru do FBI, comete erros absurdos, tipo mandar estagiário resolver coisa para ele sem proteção, entrar em cena do crime sem colete à prova de balas, etc. Todos dependem da ~ habilidade mágica da empatia ~ do Will, que, em outras séries e filmes (o Silêncio dos Inocentes, por exemplo) é a coisa mais básica do mundo. Pegar o setor de Análise Comportamental do FBI e tratar como magia é um absurdo: o FBI consegue se colocar no lugar dos criminosos após anos capturando e estudando psicopatas, e depois de anos e anos de pesquisa, eles conseguem perceber que determinadas pessoas se comportam de determinados modos, e provavelmente irão fazer determinada ação. Temos 11 temporadas de Criminal Minds abordando o estudo dos perfis, e uma leva de filmes também. No Hannibal? O Will fecha os olhos, vê uma luzinha mágica, se coloca no lugar dos assassinos, todos ficam assustados com essa habilidade, e ficam com medo que ele vire serial killer porque, duh, só serial killers conseguem se colocar no lugar de serial killers.

E por fim, ao colocar "rede de acontecimentos" ao invés de enredo já diz bastante: o enredo de Hannibal não é sólido, e aliás, na maior parte das vezes não faz o menor sentido ou sequer existe. Sabemos que o Will e o Hannibal são nêmesis e o Will vai capturar o Hannibal, e a série tenta mostrar esse desenrolar. Mas ia ser muito rápido, coisa de uma temporada, então vamos inventar meia dúzia de nadas aqui. Vamos pegar personagem X, que não tem motivo algum para estar ali, e colocar ele fazendo a coisa Y que ele nunca poderia fazer, aí deixa ele doido, manda ele ver o Hannibal, o que é isso, precisamos de um médico na cena do crime? Chama um perito do FBI? Que é isso, gente, chama o Hannibal, ele mora ali vizinho, muito melhor, pfvr, plmdds.

Além do mais, a série é focada na atração sem precedentes que um sente pelo outro. Eles passam, episódio após episódio, se olhando apaixonadamente, procuram um pelo outro, quando um vai preso o outro sofre, quando um foge o outro acha. Mas vai ter beijo gay? Duvido. Mas pelo menos alguma coisa ia passar a fazer sentido se tivesse.

Scream
Depois de ver Hannibal se esforçar tanto e não conseguir entregar algo que fizesse sentido, resolvemos assistir Scream, que desde o princípio já parte da ideia de fazer piada sobre si mesma. Baseada naqueles filmes dos anos 2000 em que as vítimas recebem uma ligação do maníaco e logo em seguida morrem, a série é capaz de entreter e deixar você tentando resolver o crime antes de acabar. Acaba sendo bem óbvio, até para mim, que sou a pessoa a melhor espectadora de todas.

Vamos ser migos e discutir o BTK e o Zodíaco
Mas depois de tanto tentar não se levar a sério (adoro esse tipo de filme, em que tem um assassino à solta te ameaçando e te mandando mensagem o tempo inteiro, e te vigiando do lado de fora da casa, mas tu resolve mesmo assim ir para uma festa HAHAHAH faz todo o sentido), eles tentaram tanto entregar um final surpreendente que ele... não faz lá muito sentido. Não é viável.

Sabe quando você adormece em cima do braço, e ele está tão dormente quando você acorda que ele está pesando uma tonelada? Tenta arrastar um corpo, então. Tenta mudar o local de um corpo, para ele ser encontrado de forma suspeita. Não parece improvável? É porque é mesmo.


Conclusão:
Quer uma série de crime com assassinatos cabeludos, enredo confuso porém certeiro, e a sensação no fundo do estômago que você precisa entender o que está acontecendo? Assista a primeira temporada de True Detective. A segunda não. Da segunda, a única coisa que se salva é o cabelo da Rachel McAdams e aquela moça deprê que cantava música indie no bar derrubado.

Quer uma série bonita, com trilha sonora ótima, terror na medida certa, e que termine de forma bem amarradinha e sem pontas soltas? Assista Over the Garden Wall. Já estamos na época em que todo mundo devia levar desenho animado a sério, porque isso sim foi a melhor coisa que já passou na tv.

Corrão.


25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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