Sobre ter 24 anos e muitas saudades

Quando eu tinha 11 anos e conheci a minha melhor amiga, nós costumávamos sentar na cama e ficar brincando de prever o futuro. Achávamos conforto nas nossas adivinhações, e sim, iríamos ser melhores amigas para sempre. Ela, cansada de se mudar, iria se estabelecer em Fortaleza. E eu, cansada de ser deixada para trás, também iria encontrar a redenção em ter uma melhor amiga que não fosse embora. Porque, veja bem, aos 11 anos eu já havia passado por não menos que três melhores amizades da vida inteira que se rompiam. E três amizades aos 11 anos é muita coisa. A Fernandinha, minha melhor melhor amiga da época do maternal até a alfabetização, acabou se mudando. Não sabíamos usar o telefone ainda, então sequer tivemos chance de trocar de números. A Andrea, que morava aqui do lado de casa e vinha brincar de boneca todo fim de semana, se mudou para Recife. E no final do ano, uma menina que sempre estudou comigo mas nunca calhou de ser minha amiga encontrou em mim a melhor das amizades, só para ir pra uma cidade vizinha meses depois.

E foi com esse trauma que conheci a Monique, e qual foi a minha surpresa quando ela me contou que iria se mudar. No fim do ano. Para outra cidade. Aos 11 anos isso doeu, mas já podíamos ligar uma para a outra, e mandar emails depois, passando pelo mirc (sempre com uma ligação rapidinha antes: entra agora, estou on!), msn. Já falei aqui que a Monique voltou, passou um ano aqui, foi embora de novo, voltou mais uma vez durante a faculdade, e, mais uma vez, foi embora. Mas a nossa amizade sempre foi assim, e essa distância e todos esses anos nunca diminuíram a relação que a gente construiu.

Depois desses problemas recorrentes de melhores amigas que vão embora, fiz uma promessa à mim mesma que não iria mais arrumar amizade com quem se muda. Não, obviamente não tinha como saber, mas mal sabia eu que não é preciso que uma das partes se mude para que uma amizade acabe; aliás, aprendi da maneira mais difícil e dolorosa que a amizade, como o amor, sim, acaba. E dói, e a gente chora, mas... Passa. E o pior é que, quanto mais velha a gente fica, mais complicado fica fazer novas amizades, e mantê-las, e conquistá-las com a mesma intensidade que conseguíamos aos 11 anos. Experimenta ter 24 anos.

Experimenta ter 24 anos e, cansada, encontrar uma amizade incrível com meninas incríveis que, infelizmente, calham de morar uma em cada canto do Brasil. Porque eu me achava uma PhD em saudade, já que por anos não sei o que é viver sem esse sentimento, mas ainda não sabia como podia doer. E dói. E dói muito. Mas me sinto tão completa por tê-las por perto (mesmo que longe) que, na maior parte do tempo, acho que moramos todas no mesmo prédio, que irei comer um brigadeiro com a Flá mais tarde, que todas iremos para a colação de grau e formatura da Analu, que eu posso levar a Dindi para brincar com o Chiquinho e sair para ajudar a Dedê e a Milena a comprar roupa. A maior parte do tempo.

Acordei no meu aniversário com as piores expectativas, pensando logicamente que quanto menos eu me decepcionar melhor. Que tudo que vier de bom com esse dia, que está fadado ao fracasso, será um lucro. Fui trabalhar, sentindo o peso de ser adulta, e passei o dia recebendo ligações e recados. Todos recheados de amor, tornando aquele dia bosta num dia feliz, e com a mesma mensagem:

Queria estar aí para te dar um abraço.

Minhas amigas compartilhando fotos lindas que tiramos em encontros passados, Monique me ligando à noite, minha avó ligando do Rio, meu avô ligando da sua casa e me prometendo uma visita depois. Sinta-se abraçada. Que saudades de você! Depois te dou um beijo.

Engraçado esse sentimento de ser amada, e de ter partes suas espalhadas por aí. De saber que tem pessoas que te amam, e mesmo você estando a milhares de quilômetros de distância, ligam, e ligam, e te desejam amor, e te desejam uma felicidade super sincera. E dizem que infelizmente eu não estou aí, porque o que na verdade o que eu queria era que o aí fosse aqui, e vice-versa.

Recebi ligações, mensagens, muito, muito amor. Mas, quando tudo isso se foi, eu estava sozinha, no meu quarto. É que sempre tem uma parte de mim que fica para trás.

25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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