4 de maio, e a gente

Há dois anos atrás, a Máfia decidiu fazer um meme no qual todas nós postaríamos, anualmente, sobre o dia quatro de maio. A data foi escolhida de forma aleatória, o primeiro eu perdi, e o segundo você encontra aqui. O que ninguém sabia era que o terceiro seria tão, tão especial.

Já foram-se dois encontrões que eu participei e que passaram batido sem post - o primeiro, em Curitiba, em que eu fiquei aterrorizada. E se elas não gostassem de mim? Passei o vôo inteiro com frio da barriga, mesmo já tendo conhecido a Milena e a Anna Vitória em outras oportunidades. Cheguei, esperei, e quando vi fui recebida por um abraço coletivo maravilhoso, e que naquela hora eu simplesmente soube. Fiquei calada boa parte do tempo (eu acho), porque todas me acharam quietinha. No segundo encontrão, em São Paulo, tudo já estava natural, e eu não podia me sentir melhor rolando no chão da casa da Renata, dando sinopses furadas de filmes péssimos e depois brincando de Imagem & Ação. Eu, que odeio jogar. Mas é que... Quando estou com vocês, deixo de ser eu, e viro a gente.

Deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu sempre fui um "a gente". Na época do colégio, a gente ia fazer o trabalho. A gente ia fazer um pôster legal. Até mesmo no meu relacionamento, e na minha família, acontece de vir de uma forma ou de outra aquela frase: a gente precisa fazer tal coisa. Só que esse a gente, na verdade, sempre significou que eu iria fazer tal coisa sozinha, mas que teria apoio moral, risadas, e o que mais fosse. A gente precisa fazer significa, olha, você precisa fazer tal coisa, mas eu tô aqui te olhando.

Só que aí chegamos no Rio, na última quarta-feira, e o Rio inteiro parecia ser a nossa casa. Dos pais da Paloma sendo maravilhosos e mandando a gente se sentir à vontade, quando a gente já estava deitada de pijama rolando no chão e abusando do wifi há horas. De quando a gente se vestiu de rosa e foi ser viking no Outback, e da conexão gordice que eu e a Giu estabelecemos imediatamente e para todo o sempre. De quando a gente me mandou lavar o cabelo e secar, e a gente garantiu que ia dar certo, só pra segundos depois a gente cair na gargalhada da merda que tinha ficado. Da gente não ter conseguido seguir horário nenhum, mas quando a porra ficou séria e eu e Deyse fomos tirar nosso visto, a gente conseguiu manter um plano perfeito. De quando a gente chegou na casa da minha avó, e a gente chorou quando ela inventou um presente fofo, e segundos depois a gente quebrou a cama de hóspedes, e ela riu.

Quando a gente decidiu que o Natal seria no dia 1o de Maio, e foi. E a gente trocou tanto presente, que juro, voltei a ter esperanças e gostar do Natal. Porque foi um dos momentos mais mágicos da minha vida, estar sentada naquele colchão inflável, sendo presenteada, distribuindo amor e abraços. De quando a gente não conseguia passar um minuto sem se abraçar. De quando a gente brincou com papel na testa, e eu que odeio brincar, me diverti horrores. De quando a gente foi pra praia de ônibus, confortavelmente, enquanto a gente ia fazendo bagunça de bicicleta na Ciclovia. De quando entramos correndo no mar, como se nunca tivéssemos visto tal coisa na vida, e eu nem escutei a voz da minha mãe me dizendo para jamais tomar banho de mar no Rio. É frio, é perigoso, a correnteza te puxa. Caímos todas na água de mãos dadas, levamos caldo, e fomos espalhar areia no chão da Cultura. Quando a gente se deitou ao meu lado, e me ouviu ler um livro maravilhoso, que a gente prometeu comprar correndo depois.

Quando a Analu e a Anna se perderam na livraria, e disseram: nossa, onde é que a gente pode estar? E é óbvio que a gente estava deitada no chão. E é óbvio que os funcionários da Cultura até hoje encontram areia nas almofadas. Foi nessa justa hora que reparei que a gente era... A gente.

De quando a gente passou a noite trocando figurinhas, e comendo pizza, e depois dormiu em camadas. De quando a gente brigou, e chorou, porque só se briga com quem se ama muito. De quando a gente comeu um churrasco que não era gaúcho, e tomou as melhores caipirinhas feitas por uma pônei, e riu, e cantou. A gente cantou a viagem inteira, do começo ao fim, em qualquer lugar. Não sei como a gente não cantou em pleno consulado americano, ou pelo menos saiu cantando de lá quando conseguimos tirar o visto. Mas a gente cantou. E muito, e qualquer coisa. A gente se arrepiou quando estava deitada de roupa, nas areias de Copacabana, e lembrou que o Chico avisou para a gente não se afobar não, que nada é para já.

Mas a gente tinha que ir embora, e a gente chorou no aeroporto. E a gente perdeu o vôo, e voltou, mas a gente também teve que ir embora.

No dia quatro de maio de 2014, eu estava em casa. Ao contrário do ano anterior, que eu fui tão produtiva que nem acredito, nesse ano eu dominguei. Dormi boa parte do dia, exausta, joguei videogame, li um pouco, dei atenção ao MB que estava há mais de uma semana sozinho. Saímos para jantar, e dormi cedo. Estava sentindo uma dor terrível, uma ressaca péssima, que eu só posso concluir como sendo um coração partido de saudades da gente.

Demorei uma vida inteira, viajei, me formei e trabalhei, para encontrar a gente. E chegar à conclusão que, apesar de sofrer, meu Deus, como a gente é feliz.

Para que se a gente para o mundo para




25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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