Cena Avulsa Perdida no Espaço e no Tempo do Livro II:

Índio ergueu os olhos, mantendo a feição inexpressiva como lhe era costume. Julio ainda não confiava no rapaz, no entanto, não tinha muita escolha a não ser aceita-lo naquele momento. O que Índio representava para eles era o mínimo de esperança que poderiam alcançar ali.

Mais dois dias se passaram sem que nada de extraordinário acontecesse, e o trio se mantinha concentrado na cabana a maior parte do tempo, saindo esporadicamente apenas pela necessidade de Índio fumar seu cachimbo em meio às árvores (como tinha que fazer, pelo menos, três vezes por dia) e Matt dar algumas voltas discretas ao redor do terreno. Mesmo com as pesadas asas da cor de gelo, que agora já não pareciam tão atípicas, o garoto era surpreendentemente bom na arte de disfarçar a si mesmo, tanto que naquela manhã, durante o desjejum, Julio quase sentara em seu colo, julgando que a cadeira que o corpo de Matt se encontrava estava vazia.

Cabia ao chileno o ato de resmungar, e constantes eram as vezes que Julio se ocupava em andar de um lado para o outro da pequena chácara. Quando Índio retornara, no fim da terceira tarde que Julio julgava desperdiçar, o chileno o abordou, com os olhos faiscando de excitamento como às vezes lhe ocorria.

– E então?! – perguntou, de forma quase acusadora – A gente vai morar para sempre aqui mesmo?!
– Ainda não é a hora – Índio respondeu, polindo o cabo de madeira do cachimbo antes de guarda-lo em um bolso.
– Porra, eu não agüento mais! Se fosse para ficar parado, não teria deixado o Castelo! Pelo menos lá era maior!
– Se você realmente se importa, sinta-se livre para voltar. Estou fazendo um favor. Se não está satisfeito...
–... Não, não estou satisfeito – interrompeu Julio, inflamado.
– O que foi, hein? – perguntou Matt, que talvez estivesse lá o tempo todo, mas aparentava ter acabado de chegar.
Índio lançou ao anjo um olhar pouco expressivo, mas que foi imediatamente compreendido.
– Temos que esperar mais um pouco – Matt tentou tranqüilizar o amigo.
– NÃO! – respondeu Julio, dando um chute na cadeira próxima, fazendo com que uma das pernas se soltasse e rolasse até o meio da minúscula sala.
– Pare de agir como uma criança mimada – repreendeu Matt – Se não é a hora, NÃO É A HORA. NÓS não temos escolha!
– E o que é que EU vou fazer então?!

Índio, que já havia se sentado num banco, distraindo-se mais uma vez com o seu cachimbo, disse, em tom conclusivo:
– Você vai jantar em pé.

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A viagem ao Rio é daqui a uma semana! Me dêem diiiiicas!

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25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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