Sobre dia dos namorados, antigos amores e O Hobbit

Ou Eu e o Orlando Bloom, uma história de amor

Eu não comemoro o dia dos namorados com o Marcelo, porque todas as datas comemorativas ficavam concentradas na primeira metade do ano, e de julho em diante ficávamos mais ricos (bom), mas sem ganhar nenhum presente (ruim) até a volta do Natal. Era dívida atrás de dívida entre aniversários, aniversário de namoro e o fatídico dia dos namorados - data que ele nunca gostou, por se tratar obviamente de um feriado capitalista e sem fundamento, mas que eu sempre defendi com unhas e dentes. Porque tinha passado todos os meus longuíssimos 16 anos sozinha nessa data fatídica, e jamais iria aceitar ter um namorado e ter como programação do dia 12 de junho comer brigadeiro (sozinha), assistir filme de comédia romântica (de preferência, Notting Hill) (sozinha) e ir dormir achando que minha vida não tinha lá muito sentido.

Mas depois de muita discussão, ele finalmente me convenceu a abolir essa data do nosso calendário, e colocá-la confortavelmente no fim de Setembro.

Ontem, no dia dos namorados para todo mundo menos para mim, eu estava no trabalho quando me deparei com o novo trailer do Hobbit. Assisti sentindo aquele friozinho na espinha que a gente só sente quando está chorando de vontade de ver um filme que nunca estréia (ou que você sabe que só estréia em Dezembro, mas mesmo assim sofre, por motivos desconhecidos). E foi aí que, em 0:38, meu coração disparou em palpitações.


Porque lá estava o primeiro meu amor.

Vamos lá, todo mundo aos 13 anos tem namorados fictícios, mas minha relação com o Orlando Bloom durou anos da mais pura devoção, mescladas com o mais sincero dos sofrimentos. Juro que não sei o que foi: estava lendo o Senhor dos Anéis, com meus 11 anos, e me apaixonei pelo personagem do Legolas. Perdia tempos da minha vida me balançando na rede, lendo e imaginando aquela pessoa incrível, um elfo, ora vejam só, e fazendo todo um planejamento de como ele deveria ser. Olhos azuis, cabelos loiros, magro, alto… Lindo. Perdia horas e mais horas imaginando a sua voz e como seriam as suas maçãs do rosto, por exemplo.

Até que um dia estava na casa da minha prima e vimos o trailer da Sociedade do Anel. E lá estava ele. Começamos, como duas boas adolescentes, a fazer pesquisas obsessivas. Lembro de estar na casa dela assistindo os extras (isso foi antes de ver o filme? Como pode? Não lembro direito), e de repente o elfo se desfez diante de mim. E detrás daquela peruca incrível loira, e das lentes azuis, estava um cabelo cacheado moicano. Fazendo bungee-jump. Com tatuagem de sol na barriga. Era, como vocês já sabem, o Orlando Bloom.

- minhas fotos favoritas da época -


Como toda boa adolescente, eu tinha centenas de fotos dele, de todos os ângulos possíveis, separadas por pastas (ex: Coleção de Gravatas, caretinhas - juro). Sabia de cor a sua altura, data de nascimento, nome da mãe, da irmã, onde tinha estudado, o que tinha feito. Lembro de chegar para meu pai e pedir pra ele baixar um cd do Bob Dylan, porque era seu preferido, e eu queria que fosse o meu também. Assisti todos os filmes em que participou, mesmo Falcão Negro em Perigo, onde ele só fazia uma ponta. Quando lançou Piratas do Caribe, eu já estava perdidamente apaixonada, faltei desmaiar quando fui pega de surpresa vendo o trailer no meio do cinema, me arrepiei até o último fio de cabelo quando Will Turner surgiu pela primeira vez. Fiquei acordada de madrugada na tentativa de cadastrar um fotolog (aff), e ainda fiz dois: Will Turner e Miss Turner. Entrei para fã clubes.

Mas ah, se fosse só isso. O problema é que eu era uma adolescente solitária e com uma imaginação além do normal, então fantasiava com ligações de telefone, viagens que ele faria para me encontrar, fazendo feira com ele no mercantil (?), ele me buscando no colégio - todo esse tipo de coisa provável e realista. Nossos 13 anos de diferença de idade não significavam nada, e ele podia muito bem ficar amigo do meu irmão. Escrevia páginas e páginas do meu diário declarações de amor para ele, poesias, e todo esse tipo de coisa que parece doentio, mas que  na época parecia super saudável. Eu recebia convites de aniversários endereçados como Gabriela Bloom. Sim, isso aí. E o dia fatídico, o auge do meu amor, quando estava indo para o colégio e fui surpreendida por um outdoor do filme Tróia, bem na frente do portão de entrada. Tão lindo ele, me fazendo surpresas! Chorei (?) quando foram tirar o outdoor, e pedi tanto que o moço acabou tendo o trabalho de recortar a cabeça dele e me entregar. Fui pra casa com um papelão de uma réplica gigantesca do Orlando Bloom debaixo do braço.

A coisa enfeiou quando ele começou a namorar a minha nêmesis, Kate Bosworth. Chorei por dias seguidos e imaginei todos os tipos de desaforo que iria dizer quando tivesse a oportunidade, e depois daí nossa relação nunca mais foi a mesma. Começaram a surgir paquerinhas reais e o amor que eu sentia, agora doído por ele ter me trocado sem mais nem menos por uma loira qualquer, acabou diminuindo. No dia que meu paquera máximo da época me chamou para ver Cruzada no cinema, hesitei por alguns milésimos de segundo (mas vou ver o Orli! Com outro! Meu Deus!), e soube que tínhamos realmente terminado quando fiquei com o menino em questão e sequer prestei atenção no filme. Quase pude ver os olhos dele me reprovando, saindo da tela. Eu estava curada da minha ridícula obsessão por amor.

Anos se passaram e Orlando e eu nunca mais tivemos contato, mas o carinho se mantém. Amei vê-lo em Elizabethtown, me irritei um pouco com a falta de papeis que ele (não) assumiu nesses últimos anos (preguiçoso! Sempre soube), e quis ficar com raiva da Miranda Kerr, mas não deu. Ela é perfeita. Ficou mais linda ainda grávida, e meu coração se encheu de felicidade ao vê-lo, pai, orgulhoso, rindo à toa. Ele tinha encontrado a sua metade, e tudo bem, porque eu também acabei encontrando a minha.

- morro por essa foto da direita -

E no dia dos namorados, assistindo o trailer do Hobbit (que, a nível de nerdeza, o Legolas sequer é citado. O pai dele, Thranduil, é um ponto importante da história, mas ele não aparece. Sei disso porque, obviamente, li com o coração na mão tentando encontrá-lo nos elfos anônimos que cruzavam a Floresta das Trevas), vivi tudo isso de novo. E sorri ao pensar como adolescente é um bicho surreal.

Mas aí era dia dos namorados, paratodomundomenosparamim, e eu assisti o Espetacular Homem-Aranha (pelo menos tinha um personagem do Notting Hill! Spike, amor verdadeiro, amor eterno!), comi um sushi básico e me refastelei no ombro do Marcelo, sentindo o seu perfume (que coincidentemente tem o meu antigo amor como garoto propaganda) e agradecendo por um dia tão bom.

E depois eu fui malhar, porque hoje era dia.


PS.: reli a Sociedade do Anel e não senti nem um pouco o frisson que a mini Pudding de 11 anos sentiu pelo Legolas. Meu amor verdadeiro literário continua sendo o Fred Weasley, e esse eu nunca superei.
  1. Guria!! Que adolescente incrível que tu era. Sério. Adorei a descrição da tua obsessão pelo Orlando. Surreal e muito fofinho. Afinal, quem nunca, né? Minha paixão, meu primeiro amor, foi o Matt LeBlanc, porque eu comecei a ver Friends na Warner quando tinha 10 anos. Em 2001. Foi amor à primeira vista. hahahahah E também chorava, fantasiava, tinha tudo dele, todo o pacote. <3

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  2. Ah, a Kate! Você viu? Que fofa, de elfa! ^^

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  3. Ai, amiga, que ótima! Eu na minha pré adolescente era apaixonada pelo Rodrigo Santoro! Tive alguns diários com uma foto dele colada.. Mas nunca que nem ti, com sobrenomes e coisa e tal, hahaha, você é diva desde sempre!
    <3

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  4. Gente, mas que obsessão! HAUHAUHA A gente quando é adolescente não sabe mesmo quando parar. Eu tinha obsessão por um ator chamado Josh Hartnett que fez pouquíssimos filmes mas que foi o grande alvo da minha paixonite adolescente. Também colecionava fotos dele de todos os ângulos, mas não me dei ao trabalho de separar por pastinhas como você :O #chocada.

    Nunca li nada do Tolkien, mas tá na fila. :D

    Beijo :D

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  5. Ahahahahahaha gente, que fofa! Não gosto nem de pensar nas minhas paixonites adolescentes, crescer e viver the real thing é tão melhor, né?

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  6. Amei! Sério, amei mesmo esse post. Ri horrores aqui e, gente, não é só comigo que esse tipo de coisa aconteceu? hahaha

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  7. Couth, eu já sabia que você era fantástica, tinha certeza absoluta disso, mas estou te tatuando na minha alma depois desse post. Porque assim, pedir um pedaço do outdoor pro moço e sair carregando um quadrado de papelão pra casa por conta de obsessão adolescente é uma coisa que superou todas as altas expectativas que eu tinha com relação a você.
    MESMO!
    HAHAHAHA
    Sua creicinha, amo você! <3

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  8. Eu tenho um trem pelo Orlando Bloom também, Couth. Ri muito da história do outdoor. Você teve o dom, viu? ahahaha

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  9. Gente do céu, tô rindo deste post. Rindo porque eu tive tantos amores imaginários adolescentes que super me identifiquei. Eu levava a sério mesmo e até pedia nas minhas orações para que a gente desse certo (sendo que a pessoa em questão nem sabia da minha existência)!!!! Boas lembranças!!!

    Sobre o dia dos namorados, eu iria até o fim nesta "briga" viu. É como você falou: já passei tantos Dias dos Namorados sem namorado, triste, me sentindo forever alone (inclusive neste ano) que faço questão absoluta de comemorar quando estou com alguém. Não faço questão de presente, caso a situação financeira esteja precária, mas faço questão de algo: seja cartão, seja uma flor, seja apenas uma mensagem no celular....enfim... faço questão de que o Dia dos Namorados seja comemorado!!!! Rs!

    Beijos

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  10. Uma das minhas promessas de aniversário para a "Carol com 22 anos ser melhor que a de 21" é comentar em todos os posts que eu amar ler.
    Começo pelo seu.

    Que delicia ler isso e voltar a minha adolescência.
    A minha adolescência foi mais longa porque levei dois anos a mais para terminar o ensino médio. Então ela começa com uma menininha apaixonada pelo Aaron Carter (credo, credo ;x) e termina no Joe Jonas, passando por Orlando Bloom, Jared Padalecki, Kaká e Zac Efron.
    Fui um tanto promiscua nesses meus amores de juventude, tinha fotos recortadas de vários atores. Vai que não dá certo com um, ainda tenho chance com outros.
    A mais avassaladora foi a com o Nilmar, paranaense, ex jogador do inter que está negociando um retorno ao Brasil e só de pensar nele vindo pro Paraná pra eu poder ver um jogo dele novamente meu coração se alegra. Tenho cartas do noivorido com fotinhas dele colada atrás. Não era obsessão, só achava que ele merecia ser feliz, muito feliz. Seria mais se tivesse ao meu lado, mas não tem problema se não estiver.

    E que sarro você com o outdoor. Eu uma vez trouxe pra casa um Zac Efron de papelão de uma locadora, assim que vi o poster dele lá deixei meu numero atrás pra me darem ele quando fossem tirar. Um metro e setenta e três de Zac de papelão no meu quarto, me olhando dormir. Muito amor.

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25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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