Katherine vs. Julio

Diário, diário. Diário.
DIÁRIO.



Como eu gostaria de estar aqui, alegre, escrevendo em você, e contando com fervor a alegria dos meus primeiros dias de férias. Dias ensolarados, bonitos, daqueles que a gente se sente jovial, em comerciais de carefree. Dias em que você acorda mais magra, que você pode dormir até de tarde, que você pode sair com a sua melhor amiga, ou ficar em casa vendo filmes ruins. Mas não. Não, não. Não na vida cruel vida de Katherine.

Acontece que ontem, veja bem, diário, ONTEM. ONTEM. Ontem, o dia estava assim. Belo, puro, radiante. E, guiado pela energia cósmica das férias, Julio Cortez foi possuído e... Bom, e sorriu para mim. Eu naturalmente olhei em volta, pensei "isso é comigo?" e, para não pagar de gorda estúpida, olhei as horas no meu celular. Naturalmente. Mas algo me dizia: "Katherine, é com você. É com você. Hoje é quinta-feira, vocês se encontraram ocasionalmente na padaria. Vocês são da mesma sala. Para quem ele estaria sorrindo?"

Bom, se estivessemos falando, sei lá, do Pedro Câmara, por exemplo, ou do Raul Breves, ele certamente estaria cumprimentando a colega de sala, cordialmente, e conversariam sobre o terrível fim do semestre, das provas, daquele professor chato. Mas sendo o Julio Cortez, ele podia estar paquerando com a caixa para, sei lá, levar um chiclete fiado além do pão. ALIÁS, sendo o Julio Cortez numa padaria... (...) O que o Julio Cortez faria numa padaria? Por que não vi que isso não ia dar certo?

Olhei a hora, era dez e quarenta e oito. Então disfarcei e fiquei olhando revistas de fofoca. Manchetes inacreditáveis. Interessantíssimas. (não, eu não iria olhar na direção dele). Até que:
- E aí, gata? Tudo bom?
- (sem resposta)
- Fazeroque amanhã?
- Nada - respondi, comprovando quão desocupada e ridícula eu sou. Não consegui pensar em outra coisa para dizer.
- Vai todo mundo se encontrar no posto antes do show.
- Que show? - como é que pode? COMO É QUE PODE? Por que eu não podia fingir que era, sei lá, blasé? Tipo "Odeio axé, odeio gente que fica no posto de gasolina, odeio você".

Achando que eu estava com piadinhas, do gênero, o-mundo-todo-sabe-do-show-de-amanhã-então-você-só-pode-estar-brincando, ele riu. Sorriso lindo. Droga.
- Bom... Vê se aparece lá.

Aí hoje, pela bilhonésima vez, eu caminho direto para a minha humilhação. E, logo em seguida, depressão. E, consequentemente, obesidade. Claro que eu fui ao posto como uma tonta. Claro que ele já estava com outra menina (e depois com a prima dela). Claro que eu voltei para casa, chorei, e comi um pote todo de sorvete. Claro que eu jurei que essa é a última vez que Julio Cortez me engana. É claro. É claro.

Ah, como odeio esse menino idiota.


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Segue a observação que eu, quando tinha mais ou menos a idade da Katherine (que é de 15/16 anos) (e um dia ela foi mais velha que eu, como pode?), também adorava um Julio Cortez. Mas aí o tempo passa e a gente aprende que o negócio é ficar com os come-quietos, como dizem por aqui :D


25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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