Por menos "pfvr pfts"

Esses dias saiu a ~ bomba ~ da menina blogueira super bem sucedida que decidiu largar toda essa vida fake, e que nossas redes sociais são vazias. Essa discussão teve muitos e muitos desdobramentos, sobre como pregamos uma vida que na verdade não é a nossa, sobre como vivemos na era da edição. No dia que essa matéria estourou, eu e minhas amigas debatemos longamente sobre isso, falando especialmente das meninas novinhas que podem vir a acreditar que a vida é isso mesmo.

No texto da Anna, que foi um dos meus favoritos (claro), ela fala sobre a proximidade das blogueiras com a nossa vida. Crescemos tendo ícones atrizes de hollywood e do Disney Channel, e que por mais que fossemos ingênuas, sabíamos que por trás daquelas mulheres tinham uma equipe. As blogueiras, de uns tempos para cá, também: mas o que incomodou sempre é esse ar de naturalidade, esse meio "I woke up like this", quando elas também não saem de casa sem uma equipe de maquiadores por trás. Mas aí chegam não só as blogueiras, mas os nossos amigos do facebook e do instagram: basta uma olhada rápida para encontrar aquele conhecido seu da faculdade que está morando fora, aquela menina que está viajando o mundo, e outra que casou recentemente numa festa maravilhosa.

Mas vamos voltar um pouco:

No começo do ano, quando eu estava muito mal por não ter arranjado emprego ainda (não é que eu tenha arranjado, mas passei a viver melhor com isso), meu irmão compartilhou um texto comigo, na sua forma de dizer calma, pequena padawan, estamos todos juntos nessa. Meu irmão é adulto, casado, empregado, com filho, e disse que também se sentia assim regularmente.

Crescemos acreditando que somos especiais, que merecemos o mundo, e que é só uma questão de tempo até que todo o nosso talento seja descoberto, e finalmente tenhamos um emprego maravilhoso em que vamos trabalhar pouco e ganhar muito, e assim ser felizes o resto das nossas vidas. Claro que isso é uma visão simplória da vida real, e que mais cedo ou mais tarde (mais cedo, por favor) iremos perceber que isso tudo é uma cilada. Só que é nessas horas que entram as redes sociais: você olha para a vida dos seus amigos e acredita, de verdade, que eles estão no topo do mundo, e que você, coitado de você, é um bosta. Todos fazemos isso, e é o eterno olhar para a grama do vizinho.

As redes sociais criam um mundo para a Ana onde: A) tudo o que as outras pessoas estão fazendo é público e visível a todos, B) a maioria das pessoas expõe uma versão maquiada e melhorada de si mesmos e de suas realidades, e C) as pessoas que expõem mais suas carreiras (ou relacionamentos) são as pessoas que estão indo melhor, enquanto as pessoas que estão tendo dificuldades tendem a não expor sua situação. Isso faz Ana achar, erroneamente, que todas as outras pessoas estão indo super bem em suas vidas, só piorando seu tormento.

Na conversa com as minhas amigas, comentamos sobre o fato de, obviamente, só postarmos as fotos de quanto estamos juntas e nos divertindo: viajamos o Brasil, fomos para baladas, nos abraçamos, casamos, rolamos na praia, brindamos com caipirinhas. As pessoas olham essas fotos seguidas de encontrões, e ficam na sensação que somos profundamente felizes: ok, nesses momentos somos mesmo, mas as parcelas de passagem no cartão de crédito cagando o nosso limite, o esporro que você levou do seu chefe por ter imprensado um feriado, a dor da despedida, os choros inconsoláveis nos aviões... Nada disso a gente mostra, claro. Porque editamos as nossas vidas e mostramos apenas o que nos convém, e ao mesmo tempo, esquecemos de pensar que acontece a mesma exata coisa com os outros.

Me preocupa essa grande influencia que as blogueiras tem, porque olha só, eu que nem sou blogueira, recebo comentários de meninas acreditando (mesmo) que minha vida é perfeita.

Vez ou outra eu recebo um comentário dizendo que, depois que a pessoa conheceu eu e Marcelo Bernardo, passou a acreditar mais no amor. Não foi uma, ou duas vezes. Foram várias mesmo.



Mas não somos perfeitos, e nenhum casal é. Nunca demos a entender que somos. As brigas de verdade, os defeitos, tudo isso fica dentro da nossa intimidade, aparentando apenas o que escolhemos mostrar. Anos atrás, resolvemos fazer um projeto em que iríamos expor o nosso cotidiano em primeiros encontros. Tivemos uma briga por causa de uma pizza, sim, mas tivemos outros momentos em que decidimos não mostrar por lá. E não falo apenas dos momentos ruins: não vou ficar citando em blogs os momentos que transamos, por exemplo. Eu só falo do que quero falar. E ele também.

Falei no projeto sobre a diferença do Professor Marcelo Bernardo e do cara com quem eu me casei: eles não são a mesma pessoa. A Gabriela que tem blog não vai admitir que é bagunceira crônica (só em casa, no trabalho já ganhei estrelinha por organização - esse comentário foi só para a minha mãe, que trabalha com RH, não me ligar agora mandando eu tirar), e o Marcelo professor não vai admitir outras diversas coisas. E o mais importante: não vamos compartilhar alguns momentos felizes também, porque eles são só nossos.

No texto da Debbie, do Pequenos Monstros, ela fala sobre ninguém registrar os momentos do cotidiano, e que provavelmente não terão fotos suas pequena fazendo o dever de casa. E eu, cada vez mais, aprendi a apreciar esses momentos do cotidiano, desse começo de vida de casado, em que a vida nunca foi tão terrível, mas tão maravilhosa. Fazer almoço junto, batalhar grana junto, segurar as barras juntos: e não, nunca, ser perfeitos.

Marcelo falou em seus votos (que não, não vou compartilhar aqui) que amar não era acreditar que a pessoa era perfeita. E sim, conhecer todos os defeitos, e mesmo assim decidir que quer ficar com essa pessoa o resto da vida.

Tivemos que abrir mão de muitas, muitas, muuuuitas coisas por termos nos conhecido tão novos e continuado juntos desde então; tivemos que abrir mão de muitas coisas para morar no Rio, e passamos por muitos momentos terríveis. Os momentos maravilhosos, claro, fazem toda a diferença na balança da vida. E se não colocamos fotos juntos no Instagram nos últimos dias, pode ser sim que tenhamos brigado, mas também pode ser que a gente esteja ocupado assistindo Netflix por uma semana seguida, e não faria o menor sentido tirar foto disso.

Fico feliz das pessoas acreditarem mais um pouco no amor por ver a gente junto, apesar de todos os pesares. Não vou me unir ao coro que passou a demonizar as redes sociais, e nem vou rir de quem realmente acredita que aquilo é uma cópia fiel da realidade. Mas gosto de pensar que todos nós podemos sim refletir sobre como estamos nos expondo: meu instagram é aberto para quem quiser ver o que eu quis mostrar. Pode ser que seja o que eu ando fazendo. Mas, ultimamente, os melhores momentos eu tenho guardado só para mim, mesmo.

Porque na real, foto nenhuma ou vídeo nenhum consegue capturar o que você sentiu quando estava fazendo uma escultura de buquê de bunda na praia, ou dançando na cozinha enquanto a água do macarrão fervia, ou quando você soltou aquela piada espontânea que te fez gargalhar com o seu marido por longos momentos. Que tal a gente se ater a isso e continuar vivendo? Deixa as blogueiras fazendo jabá, se elas quiserem.

E é sempre bom lembrar: está todo mundo mal.

Tiramos a foto posada, fazendo cara bonita, mas aí do nada começamos a rir de verdade.
Tirei umas 7 fotos para escolher uma.
O celular dele caiu no chão e quebrou uma semana depois, e tivemos que comprar um barato parcelado porque não temos grana.
Tava faltando pão esse dia, ficamos angustiados tentando pensar no que jantar.
Voltamos a comer miojo porque é muito barato.
Esqueci de descongelar o frango.

  1. A moral da história é aquela mesma: tudo o que a gente mostra nas internê é editado. Momentos ruins dificilmente passam na peneira, e muitos momentos bons também ficam de fora. Se eu sair uma vez por semana e postar uma foto, o mundo vai achar que eu saio à beça, mesmo que o resto do tempo inteiro eu fique de pijama vendo netflix (o que é ótimo). A internet é o lugar em que a gente consegue ser um personagem, sem precisar mentir: a gente dá uma parte da imagem e o resto as pessoas completam com o que elas quiserem, né?

    Acho que você falou muita coisa, amiga. Gostei muito do texto. Mas mesmo sabendo de tudo isso e também de um pouco do que não aparece na rede, me deixa por favor continuar achando vocês ultra-maravilhosos e modelos de vida? Obrigada. Perfeito ninguém é mesmo.

    Amo você <3

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  2. Amiga, seu texto ficou ótimo, amei demais! <3
    Concordo com tudo o que você falou porque quando eu postei sobre isso naquele texto que a Anna linkou, eu coloquei esses dois lados: nem os piores NEM OS MELHORES momentos estão no Instagram. A gente tenta mostrar os mais legais, CLARO, mas ainda assim o melhor do melhor a gente nunca consegue exprimir postando, né?
    Tipo a gente embolada no sofá do apê jogando jogo de tabuleiro. Ou sentada no chão com post it na testa, hihi.

    Te amo! <3

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  3. Amei demais esse seu post. O finalzinho falando do celular quebrado, da falta de pão... Isso sim é a realidade! kkkkk
    Mas o que eu acho mais importante é que finalmente as pessoas estão falando mais sobre isso. Essa vida editada para mim não tem problema porque é exatamente isso: nós mostramos só o que queremos mostrar. Não precisa ser totalmente verdade, não precisa ser totalmente mentira. Mas todos fazem. Abrir o espaço para falar sobre isso é essencial para que todos tenham melhor noção do que estão vendo. Quem sabe as pessoas que vão chegar na internet bem depois da gente já não venham mais instruídos e não caiam nessa mais?! Seria maravilhoso. rs
    Beijos

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  4. A gente mostra o que quer mostrar e o problema é nosso. A real é essa. Que que tem se eu postei uma foto ultra mega editada porque me achei linda? Que que tem se eu postei uma foto de pijama dizendo que nada fiz naquele dia, mas tudo bem porque #deusnocomando (?)? As pessoas que postem o que quiserem, oras. Apenas tenhamos o bom senso de não tomar partidos extremos, como tu disse. Saber que tá todo mundo mal é essencial nessa vida.
    (Deu pra entender alguma coisa nesse comentário? Espero que sim.)
    Te amo!

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  5. Amiga, achei que você chegou em muitos pontos válidos com seu texto.

    Também vivo relendo esse texto da geração Y, e lembro como da primeira vez explodiu minha cabeça esse conceito de que nossa geração é a primeira a viver essa loucura de acompanhar o tempo inteiro o que nossos ~pares~ estão fazendo das suas vidas, tudo com base numa versão editada da vida deles. Somos bombardeados com o sucesso alheio o tempo inteiro e fica difícil não fraquejar de vez em quando e comparar aquela vida com a nossa. Enquanto isso, nossos pais tiveram que esperar dez anos (ou mais) pra saber o que foi feito dos colegas de turma depois da formatura.

    Enfim, como são muitas informações o tempo inteiro chegando até nós por meio de todos os canais possíveis, acho que essas conversas são importantes de tempos em tempos pra gente se lembrar de que nem tudo é tão bom quanto parece, nem tão ruim também (?). O choro nos aeroportos, as tretas e as parcelas no cartão de crédito não fazem nosso buquê de bundas (SAUDADES) menos incrível, assim como esses sorrisões lindos de você e de MB não excluem automaticamente os perrengues. A vida real é feita dessas nuances, acho que o segredo é não acreditar que é tudo preto no branco.
    Enfim, te amo.
    E acho que nunca disse isso, mas desde sempre, antes de te conhecer, acho maravilhoso que seu blog tenha um marcador chamado "Eu amo o Marcelo". #talifã #aluna #garcelo <3
    beijos!

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  6. Amiga, achei o seu texto muito muito bom e disse uma porção de coisas que eu, sozinha, ainda não tinha parado pra pensar. Essa questão das expectativas, por exemplo, bate em mim com muita força, e por mais que eu saiba que não dá pra sair resumindo a existência alheia ao que a gente vê no Instagram, que todo mundo só mostra aquilo que quer e quando quer, às vezes eu ainda resolvo ficar comparando o feed dos outros com minha vida inteira e sei lá, é bem desesperador. Não sei, não tenho uma opinião muito formada sobre isso, mas acho importante que as pessoas estejam falando sobre isso, então já é alguma coisa.

    Te amo <3

    (que comentário away, nossa)

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  7. Acho que também tem outra coisa. Quando a gente tira uma foto legal e posta nas redes sociais, isso também funciona para NOS lembrar de valorizar esses pequenos momentos. Você tá em casa, entediada. De repente faz um chá ou um café, acha uns biscoitinhos que tinha esquecido na gaveta, monta um prato bonito e pensa: oh, que fofo! Tira uma foto, posta e suspira porque aquele momento também te deu satisfação. Claro que a parte de tirar uma foto e postar não é obrigatória, mas virou um ritual: se valeu a pena postar, é porque foi bom. Algo assim... Eu nunca fui muito de postar fotos, mas às vezes tiro umas e guardo pra mim.

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  8. Tempos difíceis para as blogueiras sonhadoras. De uns tempos para cá realmente deixei de acreditar que pessoas são sempre felizes como postam nas redes sociais escancaradamente. Eu mesma deixei de ser tão compulsiva por contar minhas coisas pra desconhecidos e conhecidos. É bom ter alguém dizendo que a vida não é tão linda, mas que pode ser, no íntimo, no "eu e você" e talz.

    Bjos! :D

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  9. fiquei aqui toda reflexiva pensando no que comentar (as vezes isso acontece) e olhando esse última foto com ~legenda. lembrei das fotos que eu tenho com o namorado (as melhores são bem nessa vibe, cheia de vibes e acontecimentos no antes, durante & depois). mas ai eu li o marcador e comecei a rir sozinha. já posso ir dormir mais feliz porque a vida é essa louca de sentimentos, tretas, textões e sentimentos a dois (ou a várias cazamigas).

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    1. (só reli o comments agora. me senti meio bêbada com os erros ~gramaticais. perdão pelo vacilo)

      :*

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25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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