Mania de Você


Lembro claramente daquela cena de filme bobo que você não quis ver, no qual o casal apaixonado escolhia, entre milhares de cds, aquela única música que fosse dos dois. A música tema do relacionamento. Esse tipo de coisa não se escolhe assim, deliberadamente, esse tipo de coisa simplesmente acontece. Mesmo assim, não tinha acontecido para nós. Tentamos nos lembrar, juntos, se algo tocava naqueles momentos especiais e espontâneos, mas nada. No máximo, um carro de funk ao fundo. Lembramos de cartas e declarações, e mesmo que você deixe de ser coruja e seja a minha rodovia, e mesmo que hoje sem você eu já não consiga mais do mesmo jeito, nenhuma música parecia bater. Não cem por cento, não da forma natural.

Houveram shows também, mas uma batida perfeita não é música tema de nenhum casal que se preze, e por mais que eu tente me lembrar, aquela música que fez você se arrepiar todo numa rede naquela primeira viagem simplesmente não me vêm à cabeça. As nossas composições em tardes quentes nunca foram anotadas, e os versos que compus para você geralmente não fazem o menor sentido, embora você ria e sempre diga que me ama logo em seguida. Eu também lembro do beijo demorado ao som de uma banda qualquer, e sem dúvida lembro do seu caderno cheio de letras que tanto chamou minha atenção (você era mesmo um cara estranho, hein?). Mesmo assim, nada. Nada, nada.

Tento conversar com você, te pedir opiniões, expressar o meu medo dramático e tolo de ser mais um daqueles casais que nem sequer tem um tema, uma música que fale tudo sobre os dois, presente em todos os momentos. Você só ri. E eu insisto, e sem querer a minha entonação sai um pouco sentida demais, um tanto suplicante, e você imenda num sorriso:

- Meu bem...
- Aah, não... Não, não! Não emenda naquela música idiota...
- Você me dá...


Água na boca.


25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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Esse blog está vestido com as roupas e as armas de Jorge, porque ninguém há de copiar esses textos e ilustrações sem dar o devido crédito.