Vovó (26/31)

Esse é um assunto delicado de falar, por isso demorei tanto tempo para chegar aqui e abrir o meu coração. Tem muito a ver com psicanálise, auto conhecimento, um reflexo muito louco do seu futuro e do seu passado juntos, uma série de coisas. A verdade é que eu moro com a minha avó. E se vocês me acham maluca, é porque nunca a conheceram.

De vez em quando eu compartilho no snapchat (@gabrielacouth! Me segue por lá!) alguns drops de loucura, coisas rapidinhas do dia-a-dia que acabo compartilhando. Minha avó é mestra em DIY, viciada em panos de prato e decoração, e foi dos genes dela que saiu a minha mania de colecionar coisas que não sei se vou usar depois, mas acho que sim, melhor mesmo é não jogar fora.

Essa semana eu estava de boas, fazendo o café da manhã, quando ela chega com aquela expressão vitoriosa na cozinha. A vizinha dela estava reformando o piso, trocando o taco centenário (e maravilhoso), por uma tábua corrida de mdf. Sabe aquele estágio da velhice, que algumas avós passam, de naturalmente enjoarem de todos os móveis de mogno, do piso de taco, da prataria, e acharem melhor trocar tudo por móveis moderninhos da tokstok e porcelanato na diagonal? A minha tem a vontade, mas não tem o estado de espírito necessário para passar por uma obra (compreendo? Absolutamente), então ela vive de comentar sobre a vizinha, e da boa ideia que foi aquela reforma de piso, que ficou muito melhor, etc.

Mas se tem uma coisa que minha avó não compreende é desperdício. E olha, esses rapazes da obra desperdiçaram muita madeira. Assim, muita. E aquela madeira boa não poderia ficar lá, no lixo, certo? Certo? E foi por isso que, quando entrei no quartinho da bagunça, metade estava tomada por vários pedaços de compensado que minha avó resgatou do lixo.

Com que propósito, vocês me perguntam?

Vocês não sabem a versatilidade que pedaços de mdf podem ter. Por exemplo, para colocar em cima de prateleiras. Ou debaixo de forninhos (minha avó, como idosa, se reserva ao direito de não confiar em eletrodomésticos, então, por precaução eles estão sempre fora da tomada, e em cima de uma pilha (!) de madeira e panos de prato, para não estragar o móvel (?), e tal). Ou como adereço, afinal, quer coisa mais bonita que um pedacinho de mdf em cima de um criado mudo de jacarandá?

Isso foi apenas uma das histórias. E se eu falar do cesto de frutas falsas, quando as frutas de verdade não podem ficar, por motivos óbvios, no cesto de frutas? Mas não são frutas de cera, são aquelas frutas de plástico, bem 1,99, que nem de longe, sendo míope, passam por frutas de verdade. E do meu pano de prato preferido, eternamente em cima do fogão, que consta a obra de arte de natureza morta, ressaltando uma fruta magnífica, a pera-caju? 

E a geladeira, que em todos os andares tem uma rendinha de plástico para enfeitar? 

A nossa vida é um suspiro. Deve ser uma loucura ter passado tantos anos sozinha, e de repente ter que conviver com dois jovens, cheios de ideias erradas (onde já se viu, colocar um adaptador para usar duas tomadas ao mesmo tempo? Pfff), na flor da juventude e da imaturidade. Assim como é uma loucura ser jovem e conviver com alguém que já viu tanta coisa nessa vida, mas que continua telefonando para todas as amigas todos os dias, só para perguntar se está tudo bem, como vai a vida. Dá pra imaginar ter 86 anos?

No fim das contas, ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais. Ou avós.

  1. MEU DEUS.
    VOCÊS SÃO IDÊNTICAS. ♥ ♥ ♥

    Falar de vovós sempre me emociona, perdi minha última há muito tempo, mas há cinco ganhei uma adotada e está sendo lindo (até programei um post sobre ela).
    Com certeza essa experiência será incrível pra vocês três, temos sempre muito a aprender com os mais velhos, e eles com os mais jovens, porque não.

    Só aproveite muito esse momento, essa vovó. ♥

    Cara, são muito iguais. Não consigo parar de olhar. O.O

    Beijos Gabi <3

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  2. Amiga, eu não consigo superar o choque do quanto vocês se parecem fisicamente.

    Demorei a comentar por motivos de: os itálicos que você usou fizeram eu ouvir você contando essas histórias dentro da minha cabeça e eu não podia ter uma crise de riso agora porque estou trabalhando. Aí depois fui almoçar pra acalmar os nervos e voltou.

    Vovó é um ser muito peculiar. Só dá pra acreditar mesmo porque eu conheço, e já vi as rendinhas e os potinhos na geladeira hahaha

    Te amo horrores!

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  3. Vovó é um ser inacreditável e incrível. Peculiar, como Palo disse, parece ser a palavra ideal para descrever ela. Hahahaah
    Eu amo muito as aventuras de Vovó no snap e sempre fico imaginando como seria se eu morasse com a minha vó. Nossa, acho que não daria certo.
    E aff, quando eu vi a foto de sua Vovó na tua casa eu quase caí pra trás e tenho quase certeza que perguntei pra Palo se aquela era tu ou ela. Hahahaha

    Te amo! <3

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  4. Fico muito intrigada quando olho pra essa foto da sua vó porque amiga: é você!11!1 Acho isso incrível? Sei lá, acho tão poético quando alguém se parece tanto assim com a avó. Sei lá, sou maluca.
    Amo demais as histórias de vovó, jamais superarei o banho das plantas, O BISCOITO ME FAZ ROLAR DE RIR, assim como rolei com essa história dos pedaços de mdf - no snap e agora, lendo sobre isso. Que pessoa maravilhosa é vovó.

    te amo <3

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  5. A vovó é uma pessoa MUITO peculiar e seria muito fácil se apaixonar por ela se a gente não soubesse de uma história errada ou outra, mas eu ainda acho que ela tem aquele jeitão torto e errado dela, mas que te ama. Foi o que você disse: não deve ser fácil morar sozinha por anos e de repente receber dois jovens em casa. Eu tenho muito medo de virar uma senhorinha amarga que tem inveja da juventude dos outros, não deve ser algo tão difícil assim de acontecer, né :(
    E vocês são A CARA uma da outra, nunca vou esquecer do meu olho arregalado quando vi essa foto pela primeira vez, hahaha. Queria ser a cara da minha avó paterna, ela era LINDA LINDA LINDA. Um dia arranjo a foto dela para mostrar para vocês.

    Te amo! <3

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  7. Ah, Gabriela, que lindo <3 Isso é uma coisa que sempre me emociona muito, de verdade. As minhas avós são umas figuras, cada uma com seu jeitão. As duas são "bravas", mas são uns amores. Eu as amo muito e fico triste todo dia que eu lembro que estou longe delas. Sei que aproveitei muito quando era criança, mas agora que eu tenho tanta história pra contar, tantas loucuras pra falar, estou morando longe :/ Me contento em falar com uma delas pelo WhatsApp, haha.
    Poxa, vocês devem estar passando por uma experiência e tanto! Como deve ser bom aprender com ela e como deve ser ainda mais legal ela conviver com jovens, acho que assim ela pode reviver sua juventude também.
    VOCÊS SÃO IDÊNTICAS, NÃO CONSIGO PARAR DE OLHAR PARA ESSAS FOTOS!
    Beijos!

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  8. Meu Deus do céu. Eu tô abismada com o quanto vocês são parecidas. Quer dizer, parecidas não, iguais. Sério. Quando vi a entrada do post na timeline eu pensei que fosse tu fazendo aquelas fotos meio ~estilo~ antigo, sério.

    E eu queria saber e entender esse amor de vó, minhas avós maternas eu perdi logo quando bebê. Um dos meus avôs morreu antes de eu nascer, e o outro faz mais de dez ano (e eu não tinha muito contato). Acho muito bonito ler sobre essas histórias porque queria poder me identificar, só não consigo. A única coisa que sei é que minha avó paterna (a que me mimava) tinha mania de guardar coisa desnecessária, e minha mãe disse que eu puxei ela, ahahaha.

    Beijos!

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  9. adaline bowman, é você? O_o'
    gente, vcs são idênticas, comassim!

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  10. Que história mais linda, Gabriela. Parabéns por este texto tão sensível, tão mágico!

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25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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Esse blog está vestido com as roupas e as armas de Jorge, porque ninguém há de copiar esses textos e ilustrações sem dar o devido crédito.