Post de Iniciação ao Neil Gaiman

Mr. Gaiman por Yuko Shimizu

Eu sempre gostei de literatura fantástica, essa minha escolha decorrendo obviamente do meu amor devotado à saga Harry Potter quando tinha dez anos. Antes disso, já adorava histórias de bruxas (boas) e fantasmas (bons também), e depois que entrei na vida adulta continuei seguindo por esse lado pouco creditado da literatura. Li Senhor dos Anéis muito nova, então pouco lembro da história (está na minha meta de leitura 2013 relê-lo), e a partir daí lendo outras séries que sempre tinham esse toque de fantasia, como os livros da Diana Wynne Jones e, bom, os livros do Philip Pullman. E por último as Crônicas de Gelo e Fogo, que são tão boas que me dá uma dor pensar o quanto ainda vou ter que esperar para ler o sexto livro.

Um dia de chuva perdido no meio da faculdade, acabei entrando numa Biblioteca que tinha uma Gibiteca (argh, palavra horrível). Fui pra lá me abrigar e matar aula, e lá, no meio de vários quadrinhos bons e uns nem tanto, eu tive meu primeiro contato com Sandman. Já tinha ouvido falar, mas não sabia exatamente o que era. Li "A Casa de Bonecas" em uma manhã, e fiquei lá, me remoendo com milhões de idéias enquanto a chuva não passava. Foi aí que eu conheci o Neil Gaiman.

Visão poética do Homem, com seus olhos claros, seu cabelo desgrenhado
 e suas roupas sempre pretas, por mim.
Ao lado, ele próprio e a sua carismática Morte.

Fiz umas pesquisas e muito me interessou esse inglês misterioso e workaholic, que também havia escrito vários livros que eu sequer tinha ouvido falar. Marcelo também se interessou junto comigo, e comprou Fragile Things em Buenos Aires, mas tinha tantos livros n'A Pilha que ele acabou ficando pra depois. Outro dia, lendo o blog da Deborah, ela contou como Deuses Americanos fez com que ela tivesse outra percepção da religião (assunto que muito me interessava, principalmente depois das sagas atéias do Mr. Pullman, e das sagas profundamente religiosas do Mr. Lewis). Chorei um pouquinho e ganhei de formatura do Marcelo Bernardo, e aí começou a derradeira história de amor. E como toda história de amor entre eu e um autor, ela passa por uma vontade obsessiva de comprar absolutamente tudo que ele já tenha escrito um dia e ler como se não houvesse amanhã. Então, vamos lá para uma série de tópicos dos meus favoritos, para que vocês também se iniciem em Neil Gaiman. E já aviso que sou péssima fazendo resenhas.



1. O Primeiro que eu Li


Você já parou para pensar o que aconteceu com Odin, ou com Ísis e Osíris? Que fim levou os deuses nórdicos, e onde estão inseridos os deuses egípcios na cultura atual, além de povoarem lojas de produtos esotéricos? Pois é, eu nunca tinha parado para pensar nisso, mas pelo visto o Sr. Gaiman já havia. E é nesse mundo que está inserido o Deuses Americanos.

O livro é narrado pelo Shadow (um homem. Sim, porque depois de ler livros e mais livros com pontos de vista femininos ou juvenis, chega a ser estranho estar com um homem), um cara que não é exatamente carismático, mas que acabou me conquistando. O Shadow acaba de sair da prisão e é convocado para prestar um serviço a um homem, chamado simplesmente de Quarta-Feira. E esse homem é um deus. E é seguro dizer que um deus, antigo ou novo, nunca está sozinho.

Neil Gaiman trata do tema, fazendo um paralelo com os valores da religião atual, movida pelo dinheiro e pelo entretenimento. Essa é a história de fundo para tudo que acontece com Shadow, e que mexeu comigo especialmente em um dado momento em que ele reflete algo como: as pessoas acham ridícula a idéia de um deus que era o senhor dos raios, mas se confortam com a idéia de um Deus onipresente e onipotente, que nos acompanha onde nós estamos e sim, vai fazer com que não chova no dia do nosso casamento e que faça com que nosso time ganhe o campeonato. Deus só tem força porque nele depositamos toda a nossa fé.

Shadow se vê nesse mundo de Deuses antigos e novos, ao lado de personagens como o incrível Sr. Nancy, sua ex-mulher que ainda o procura, e um idoso que quer matá-lo com um machado caso ele perca uma aposta. Sim, porque isto é fantasia. E sim, você vai acabar amando o Shadow, mas não tanto quanto você vai amar o Sr. Nancy e seus cheroots. 


2. O Hilário Que Deve Ser Lido Depois de Deuses Americanos
ou O que Ganhou Várias Categorias em 2012


Anansi Boys. Ah, Anansi Boys.  Era uma vez um cara inglês, que não era gordo, chamado Fat Charlie Nancy. E era uma vez o pai do Fat Charlie, que nós tivemos a alegria de conhecer melhor em Deuses Americanos, o Sr. Nancy. Acontece que o Sr. Nancy morreu, lá na Flórida, e cabe ao único filho dele ir reaver o corpo e cuidar do funeral. Acontece também que o Fat Charlie não é o único filho do Sr. Nancy, e de tão tenso e envergonhado, acaba até por ir num funeral errado. Se você tem problemas naquela parte do filme que sabe que o protagonista vai se fazer de ridículo e muda de canal, te desafio a ler 10 páginas desse livro sem tê-lo fechado de vergonha pelo menos umas três vezes. Porque o Fat Charlie passa por muita, muita, vergonha.

E além de tudo isso, ele ainda tem que lidar com o fato que seu pai era um deus. E o pior de tudo, que seu irmão também é.


3. O De Contos


Outra forma de apreciação de Neil Gaiman que eu indico, muito, são os livros de contos. Li Coisas Frágeis em inglês (pois é, geralmente os livros em inglês são tão mais baratos que, no fim das contas, minha coleção crescente do Neil Gaiman é igualmente dividida em livros em inglês e português. Inclusive, em português dividiram Coisas Frágeis em dois volumes, enquanto em inglês é um só), e juro, senti saudades quando o livro terminou. Sentava no canto da fisioterapia sentindo uma dor no meu coração por não tê-lo comigo, por não poder desvendar o final do próximo conto, por não contar as páginas pra saber quanto tempo ainda ia ter ao lado dos personagens que acabei de ser apresentada. É nele que sabemos qual o problema da Susan e porque ela nunca voltou à Nárnia, e conhecemos as festas adolescentes na qual o Vic sempre parece se dar bem, uma sociedade secreta que se encontra para degustar ingredientes que nossa vã consciência sequer sabe que existe, como são criados os demônios, quem é o perturbador Mr. Alice e encontramos o Shadow novamente. Também é importante dizer que há vários poemas intercalando os contos.

Nessa hora meu coração já estava doendo de saudades do Shadow, e amei reencontrá-lo. (É uma comparação infantil, de menininha fútil, mas ele me lembra um pouco o Ryan, do the O.C., por ser um cara sério, que, quando você conhece, acaba se apaixonando.) E eu, que nunca fui muito fã de livros de contos, me rendi a esse do Neil Gaiman, e não sosseguei até comprar o Smoke and Mirrors, que é outro livro de contos também dele. Mas, se for pra ler primeiro, prefiro Fragile Things. Aliás, só de tentar lembrar seus contos, tenho vontade de lê-lo novamente.

Obs: na ótima Revista 21 tem um post de 5 razões para ler Neil Gaiman, caso você ainda não esteja convencido.
Obs 2: depois de virar fã, pode baixar o wallpaper, tá?
  1. Maravilhoso, não poderia ter feito melhor. Adorei sua ilustração do Neil!

    Acho que o único livro para adultos dele que ainda não li foi o Smoke and Mirrors. Eu vi pra vender na Livraria Cultura, em paperpack, baratinho, mas achei que tava comprando Neil Gaiman demais. Mudei de autor, escolhi um aleatório na prateleira. Odeiei. Às vezes é melhor ficar com o que a gente já conhece.

    Achava que era só eu que tinha a nóia de ler tudo que o autor que eu gosto escreveu e aí conhecer bem poucos autores - mas não! Problema foi que eu tentei fazer isso com o Terry Pratchet (já leu? do Discworld? é muito legal, super engraçado), que tem zilhões de livros. Nem rolou, mas, na dúvida, sempre compro algo dele.

    Preciso ler alguma coisa da Dyane Warren e do Philip Pulmann urgente.

    Beijo!

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  2. Adorei o post!!! Também sou dessas fãs que procuram ler tudo o que um autor que gosta escreveu. Estou na caça, agora, da “Príncipe de Histórias: Os Vários Mundos de Neil Gaiman”, que não li ainda.

    A ilustração ficou incrível!!!

    ps: obrigada pela menção à 21. =)

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  3. Ai que liiiiinnnnda você <3 <3
    Preciso dizer que já tô aqui pesquisando o preço dos livros, querendo todos e querendo agora? Tô sofrendo que estive na Cultura de SP ONTEM e nem lembrei de dar uma olhada no Sr. Gaiman.
    Engraçado eu ficar tão interessada, já que não tenho e nunca tive paciência pra coisas fantásticas demais. Mas sinto, sei lá porque, que eu e ele teremos uma conexão. Vamos aguardar.
    Adorei o post!
    beijos
    (vou te pautar sempre HAHA)

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  4. Gente, fiquei louca para lê-lo, principalmente o Fragile Things. Eu adoro livro de contos, mas acho que nunca li nada do tipo. Preciso comprar já, você realmente me deixou curiosa.
    Beijo Couth! :)

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  5. O Submarino tava om umas promoções irresitíveis dele no final do ano, mas eu nem sabia por onde começar. Adorei sua lista! Sempre vi tanta, mas TANTA coisa do Neil que parecia impossível conhecer bem o cara. Obrigada pelo roteiro!

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  6. Menina, só conhecia de nome, mas nem sabia se exatamente o que ele escrevia. Achei ele tão bonito, gostei da foto! E os temas dos livros são interessantes também! E dica de Gabi Diva deve ser sempre anotada! <3
    beijos!!

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  7. AHHH Seu blog é todo lindo. Primeira vez aqui rsrs =D Adoro o Neil, pretendo ter todos os livros dele e os quadrinhos também. Por enquanto estou na estante com Deuses Americanos, Lugar Nenhum, Coisas Frágeis 1 e o 2 (nem sabia que ele era um só em inglês lol), Sinal e Ruído e o Mr. Punch ><. Acredito que nesse novo ano eu dê ínicio de fato a minha coleção, porque fora esses que eu tenho, dos outros eu só li Coraline. lol Muito bom o post, emocioneu de encontar alguém que goste dele ;___; q.

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  8. Nossa, as ilustrações são lindas! E os livros obrigada pelas dicas de livros.

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  9. Ganhei Coraline de presente de aniversário já a muito tempo e queria tanto, tanto, tanto ler mais coisas dele! Principalmente American Gods e Coisas Frágeis. São lindas ilustrações, na verdade, seu blog todo é muito bonito!

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  10. ignorei todo o post e fiquei STARING AT UR ART FOR SEVERAL, SEVERAL, MINUTES.

    xoxo
    u_u

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  11. Que maravilhoso este post, digno de Gaiman, cada apresentação e cada resenha tão bem feita, sim, porque você engana-se em dizer que não é boa em fazer resenhas, é muito boa sim, gostei de lê-las.
    Gosto muito de Gaiman também, não entendi porque na edição brasileira resolveram dividir "Coisas Frágeis" em dois, acredito que por puro lucro mesmo, o que é uma pena. Por outro lado, as capas foram tão bonitas, em especial de "Coisas Frágeis 2", que não resisti e tive que adquirir.
    Ótimas sugestões. ^^

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25 anos. Mora no Rio de Janeiro, é carioca de alma, mas cearense de coração. É designer e está tentando se encontrar nesse mundo. Sou casada com meu melhor amigo, o Marcelo Bernardo, e mãe da Dindi the Boston.

Gosto de ler, de dormir de rede, de inspirações repentinas e de petit gateau. Mas o mundo seria muito melhor sem aliche gente que fura fila. Ah, e de vez em quando eu desenho.

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Esse blog está vestido com as roupas e as armas de Jorge, porque ninguém há de copiar esses textos e ilustrações sem dar o devido crédito.